Cientistas descobriram que certas mutações no gene MC4R, ligado ao controle do apetite e do peso, parecem proteger contra doenças cardíacas, mesmo em pessoas com obesidade. O achado foi descrito em um estudo publicado na revista Nature nessa quinta-feira (16/10).
O MC4R é um gene fundamental para regular o apetite, o gasto energético e o equilíbrio metabólico. Alterações nesse gene estão entre as causas genéticas mais conhecidas da obesidade, especialmente em pessoas com aumento de peso desde a infância.
No entanto, os pesquisadores notaram que algumas das mutações, embora favoreçam o acúmulo de gordura, também podem modificar a forma como o organismo lida com a substância no sangue.
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Os cientistas analisaram dados genéticos e clínicos de milhares de participantes em diferentes bancos de dados de saúde e biobancos internacionais. Eles compararam indivíduos com variantes funcionais do MC4R e pessoas com a forma “normal” do gene, observando parâmetros como colesterol total, níveis de lipoproteínas e ocorrência de doenças cardiovasculares.
Os resultados mostraram que portadores de determinadas variantes do MC4R, mesmo apresentando maior índice de massa corporal (IMC), exibiam níveis mais baixos de colesterol LDL — o chamado “colesterol ruim” — e uma menor incidência de infartos e outras doenças cardíacas.
Esse efeito protetor, segundo os autores, pode estar relacionado a mudanças na forma como o corpo armazena e utiliza energia. Os pesquisadores destacam que isso não significa que a obesidade seja inofensiva, mas que o risco cardiovascular pode depender também de fatores genéticos e metabólicos específicos.
Obesidade e doenças crônicas
Segundo o estudo, nem todas as pessoas com excesso de peso têm o mesmo tipo de risco metabólico. Essa distinção ajuda a entender por que algumas pessoas com obesidade desenvolvem doenças cardíacas precocemente, enquanto outras não.
Ao compreender como o MC4R influencia o metabolismo e o sistema cardiovascular, será possível desenvolver medicamentos que reproduzam seus efeitos benéficos sem causar ganho de peso. Os especialistas ressaltam, porém, que as conclusões ainda são iniciais e precisam ser confirmadas em novos estudos clínicos.
Apesar da aparente proteção cardíaca, as variantes do MC4R continuam associadas a riscos aumentados de diabetes tipo 2, distúrbios hormonais e acúmulo de gordura corporal.
O estudo reforça que o impacto da obesidade na saúde vai além dos números na balança: envolve uma complexa interação entre genes, metabolismo e fatores ambientais.
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