Em meio aos boatos de que a vacina da Pfizer contra a Covid-19 poderia causar miocardite em crianças, pesquisadores de universidades inglesas iniciaram uma pesquisa para entender o real risco. O resultado mostrou que o risco de desenvolver a inflamação cardíaca após uma dose do imunizante é “substancialmente menor” em comparação à infecção pelo coronavírus.
“Pais e cuidadores enfrentaram escolhas difíceis ao longo da pandemia”, refletiu a professora e coautora do estudo, Pia Hardelid, sobre os efeitos negativos das fake news. Pia é especialista em epidemiologia da University College London. O artigo científico com as novas evidências foi publicado na edição de dezembro da prestigiada revista The Lancet Child and Adolescent Health.
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A miocardite é a inflamação do músculo cardíaco (miocárdio), que prejudica a capacidade de o coração bombear sangue. O quadro pode ser causado por infecções, doenças autoimunes, medicamentos ou toxinas. Os casos relacionados às vacinas são extremamente raros.
O novo estudo foi feito a partir de registros de saúde de 13,9 milhões de crianças menores de 18 anos, coletados entre 1º de janeiro de 2020 e 31 de dezembro de 2022. Nesse período, cerca de 3,9 milhões de jovens foram diagnosticados com Covid, enquanto 3,4 milhões receberam a primeira dose da vacina Pfizer.
Os cientistas analisaram o risco de complicações raras, como baixos níveis de plaquetas no sangue (trombocitopenia), coágulos nos vasos sanguíneos (trombose arterial e venosa), miocardite e pericardite.
Os resultados mostraram risco “substancialmente menor” de desenvolver complicações cardíacas após uma dose da vacina Pfizer do que se tivesse sido infectado pelo coronavírus.
Os jovens apresentavam risco maior de desenvolver as condições até 12 meses após a infecção pelo vírus. Por outro lado, depois da vacinação contra a Covid, observou-se apenas um risco de curto prazo de miocardite ou pericardite nas primeiras quatro semanas, ainda assim, muito menor.
Estima-se que, ao longo de seis meses, as infecções por Covid levaram a 2,24 casos adicionais de miocardite ou pericardite por 100 mil crianças. Em contrapartida, o número foi de 0,85 caso adicional de miocardite para cada 100 mil vacinadas.
“Após o diagnóstico de Covid, observamos que o risco de doenças inflamatórias foi cerca de 15 vezes maior nessas primeiras semanas”, disse a professora Angela Wood, especialista em doenças cardiovasculares da Universidade de Cambridge, diretora associada do Centro de Ciência de Dados da Fundação Britânica do Coração e coautora do estudo.
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