Um novo estudo indica que ter mais músculos e menos gordura visceral pode estar associado a um cérebro biologicamente mais jovem. A relação será apresentada na reunião anual da Sociedade Radiológica da América do Norte (RSNA), que ocorre na próxima semana, e coloca a composição corporal como possível marcador da saúde neurológica ao longo do envelhecimento.
O trabalho avaliou a relação entre massa muscular e gordura abdominal profunda, conhecida como gordura visceral. De acordo com os autores, os participantes do estudo que tinham mais gordura abdominal do que músculo apresentaram uma idade cerebral maior nas estimativas feitas por inteligência artificial. Já aqueles com maior volume muscular tiveram idade cerebral considerada mais baixa.
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Como o estudo foi feito
A equipe analisou 1.164 adultos saudáveis, com média de 55 anos. Todos passaram por ressonância magnética de corpo inteiro. As imagens foram coletadas para medir quatro fatores: volume total de músculos, quantidade de gordura visceral, quantidade de gordura subcutânea e estruturas cerebrais.
Depois da coleta, todas as imagens foram analisadas por um algoritmo de inteligência artificial treinado para identificar e quantificar cada tipo de tecido. A mesma ferramenta também calculou a idade cerebral estimada, baseada nas características anatômicas observadas na ressonância do cérebro.
Com esses dados, os pesquisadores verificaram que a gordura subcutânea não apresentou relação com a idade cerebral. Já a gordura visceral, localizada na parte interna do abdômen, apareceu associada a estimativas mais altas de envelhecimento do cérebro, enquanto a massa muscular teve relação oposta nas análises.
Papel da gordura visceral
A gordura visceral fica alojada no interior da cavidade abdominal e envolve órgãos vitais. Ela costuma ser mais difícil de identificar sem exames de imagem e está ligada a alterações metabólicas que favorecem inflamação e desregulação hormonal. Essas mudanças podem acelerar processos que também afetam estruturas cerebrais, segundo os pesquisadores.
Por isso, os autores afirmam que avaliar apenas o peso ou o índice de massa corporal (IMC) deixa escapar informações relevantes. A composição corporal oferece uma leitura mais precisa da saúde metabólica e, agora, também pode indicar como o cérebro envelhece.
Importância da massa muscular
A massa muscular apareceu como um dos pontos-chave do estudo. De acordo com a equipe, preservar músculo ao longo da vida tende a reduzir a fragilidade e pode manter o cérebro mais protegido contra processos que favorecem o declínio cognitivo.
Os pesquisadores também destacam que a mensuração da massa muscular por ressonância pode servir como parâmetro para monitorar intervenções voltadas à prevenção de doenças neurodegenerativas, incluindo o Alzheimer.
A preservação da massa muscular está ligada a menor risco de declínio cognitivo, segundo o estudo
Possíveis aplicações clínicas
O estudo aponta que a composição corporal pode se tornar um parâmetro útil em pesquisas e no acompanhamento de pacientes. A análise conjunta de músculos e gordura visceral permite avaliar, com mais precisão, como o corpo influencia o ritmo de envelhecimento do cérebro.
Os pesquisadores destacam que intervenções voltadas ao ganho de massa muscular e à redução da gordura visceral podem ser monitoradas com exames de imagem. Essa estratégia ajudaria a avaliar se programas de exercício, alimentação ou terapias em estudo estão produzindo mudanças reais no organismo.
O trabalho também chama atenção para medicamentos usados na perda de peso, como os agonistas de GLP-1. Embora reduzam gordura, eles podem provocar diminuição da massa muscular. Por isso, os autores defendem que medidas de composição corporal sejam incluídas em protocolos clínicos, o que permitiria ajustar doses e evitar perda de músculo durante o tratamento.
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