Após a morte trágica de Gerson de Melo Machado, de 19 anos, conhecido como Vaqueirinho, após invadir o recinto de uma leoa no Parque Arruda Câmara, em João Pessoa, um vídeo que voltou a circular em várias páginas nas redes sociais. Sorrindo, eles desce de uma viatura e confessando ter quebrado um veículo. Ele brinca, dizendo que faria de novo porque estava desempregado. A cena, antes tratada como indisciplina juvenil, hoje ganha um peso trágico diante da sua morte.
Vídeo:
A morte de Gerson provocou forte comoção nas redes sociais. Por trás do episódio extremo, há a história complexa de um jovem que acumulou 16 passagens pela polícia por dano ao patrimônio, furtos e outros crimes menores, cresceu sem apoio familiar e passou oito anos acompanhado pelo Conselho Tutelar.
“Problema comportamental”
A conselheira tutelar Verônica Oliveira, que acompanhou Gerson desde os 10 anos, afirma que ele era mais uma vítima do abandono estatal — um menino rotulado apenas como “problema comportamental”, apesar dos sinais evidentes de transtornos graves.
Verônica relata que Gerson cresceu em pobreza extrema, filho de uma mãe com esquizofrenia e avós também comprometimentos de saúde mental. Desde cedo, viveu entre abrigos, instituições e ruas. Mesmo destituído do poder familiar, procurava a mãe sempre que fugia dos abrigos — mãe que, pela própria condição, também não conseguia acolhê-lo.
Mais detalhes:
- Dos irmãos, foi o único que nunca conseguiu uma família adotiva.
- “A sociedade quer adotar crianças perfeitas, e isso não existe dentro do acolhimento institucional”, afirma Verônica.
- Desde pequeno, Gerson dizia que queria ir para a África “domar leões”.
- O sonho se repetia em conversas com o Conselho Tutelar e chegou a gerar episódios perigosos; ele já teria entrado na pista de pouso de um avião.
- Para a conselheira, esse desejo infantil e ingênuo sintetizava a vida do jovem: “Ele só queria cuidar dos leões”.
O diagnóstico oficial de seus transtornos só veio anos depois, quando já estava no sistema socioeducativo. “Por oito anos, fizemos tudo o que era possível. Ele era uma criança com sinais evidentes de transtornos graves, mas só conseguimos que isso fosse reconhecido muito tarde”, lamenta.
Para Verônica, a tragédia deste domingo encerra uma história marcada por desamparo: “A história dele é a de um menino que sonhava em conhecer a África para domar leões. Ele não percebeu a tempo que a leoa não era uma gata e que não se doma um animal selvagem sem conhecimento. Mas ele não tinha maturidade para entender isso”.
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O caso
Segundo a Prefeitura de João Pessoa, Gerson escalou uma parede de mais de seis metros, passou pelas grades de segurança e entrou no recinto da leoa usando uma árvore como apoio. A administração municipal abriu investigação sobre o caso e suspendeu as visitas ao zoológico.
A Polícia Militar e o Instituto de Polícia Científica foram acionados e seguem apurando as circunstâncias da morte.