Um estudo feito pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) mostra que a farinha feita a partir da castanha-do-pará pode ser até 60% mais proteica do que a tradicional farinha de trigo. Para os pesquisadores, o ingrediente tem potencial promissor para o mercado de produtos de origem vegetal.
A farinha foi usada na fabricação de hambúrgueres, quibes e proteína texturizada para testes de qualidade e teve boa avaliação de sabor, textura e aparência.
“A castanha-do-brasil é um símbolo da sociobiodiversidade amazônica e surge como alternativa nacional de alto valor agregado. Isso pode fortalecer cadeias produtivas amazônicas, gerando valor para pequenos produtores e indústrias regionais”, aponta a pesquisadora Ana Vânia Carvalho, da Embrapa.
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Como a castanha-do-Pará é produzida
A primeira etapa do trabalho foi entender a matéria-prima. A a castanha-do-pará, também conhecida como castanha-do-brasil, contém aproximadamente 15% de proteína bruta, 67% gorduras, 7% carboidratos e valor energético de 751 kcal a cada 100 g.
Os processos de obtenção da farinha parcialmente desengordurada, do concentrado proteico e da proteína texturizada, utilizada como substituta de produtos de origem animal, foram desenvolvidos no Laboratório de Agroindústria da Embrapa Amazônia Oriental (PA).
Segundo Ana Vânia, a remoção parcial do óleo da castanha — usado majoritariamente pela indústria cosmética — gera uma torta, que é a base para os novos ingredientes.

A pesquisa também utilizou castanhas que não tinham padrão para comercialização in natura, como as quebradas ou em pedaços, aumentando o aproveitamento do alimento e reduzindo desperdícios.
Após a extração do óleo, o teor de proteína da castanha, originalmente de 15%, saltou para 32,4% na farinha (aumento de 116%). A partir dessa farinha, os pesquisadores produziram também o concentrado proteico que obteve até 56% de proteína.
Para comparação, enquanto 100 gramas de farinha de trigo integral contêm cerca de 13 gramas de proteína — um pouco mais que a farinha de trigo branca —, a mesma quantidade de farinha de castanha apresenta quase 33 gramas de proteína, valor 60% maior.
O trabalho destaca que os novos ingredientes apresentam propriedades funcionais adequadas para aplicações alimentícias e elevados teores de aminoácidos, além de serem ricos em selênio, mineral abundante na castanha.
Ana Vânia avalia que a busca por maior diversidade de fontes proteicas nacionais têm estimulado estudos voltados à exploração sustentável da biodiversidade brasileira. “Além de contribuir para o aproveitamento de recursos naturais e a geração de emprego e renda, essas iniciativas buscam novos ingredientes para a indústria alimentícia”, considera Ana Vânia.
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