Ações da Braskem desabam quase 15% após anúncio de assessores para reestruturação de capital

Movimento reacende temor de recuperação judicial, mas especialistas veem saída em venda de fatia da Novonor e renegociação com credores

Foto: Divulgação/Braskem

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As ações preferenciais da Braskem (BRKM5) despencaram 14,8% nesta sexta-feira, 26, cotadas a R$ 7,02, depois que a petroquímica anunciou a contratação de assessores para avaliar alternativas de reestruturação de capital. O movimento acendeu alertas no mercado sobre uma possível recuperação judicial (RJ) ou extrajudicial (RE), hipótese que, embora não confirmada, ganhou força diante da fragilidade financeira da companhia.

A Braskem fechou o segundo trimestre com dívida líquida de US$ 6,8 bilhões e índice de alavancagem de 10,59 vezes o Ebitda. No mesmo período, queimou R$ 1,4 bilhão em caixa, confirmando o aperto financeiro em meio a um setor de margens estreitas e alta demanda por capital.

Fontes próximas à companhia avaliam que a contratação de assessores pode ser “um prenúncio de RJ ou RE”, em linha com experiências anteriores de empresas em crise. Por outro lado, especialistas ponderam que a medida não deve ser lida de imediato como sinal de um pedido à Justiça. “O foco declarado da empresa está em mitigar impactos do setor e fortalecer a competitividade”, afirmou Guilherme Azevedo, advogado da Paschoini Advogados.

Histórico de problemas

A situação da Braskem se deteriorou ao longo de quase uma década, marcada por passivos ambientais bilionários decorrentes do afundamento do solo em Maceió, além de dificuldades operacionais e financeiras. O episódio gerou um acordo complexo com autoridades e moradores, ampliando a pressão sobre o balanço.

Na esteira dessa trajetória, agências de rating rebaixaram o risco da empresa. Nesta semana, a S&P reduziu a nota da Braskem de B+ para BB-, com perspectiva negativa, alertando que eventuais ganhos de rentabilidade e preservação de liquidez não seriam suficientes para reverter a crise no curto prazo.

A busca por um novo acionista

Diante do impasse, a principal saída vislumbrada pelo mercado é a entrada de um novo investidor. Diversos nomes já sondaram a compra da fatia da Novonor (antiga Odebrecht), controladora da companhia ao lado da Petrobras, mas as negociações sempre esbarraram em entraves financeiros e jurídicos. Entre os interessados estiveram Lyondell, Unipar, Nelson Tanure e o fundo G4.

Analistas destacam que a Petrobras, sócia relevante, não deve injetar recursos adicionais na empresa, seja pela priorização de ativos estratégicos, seja pelo desgaste histórico com a antiga Odebrecht. “Se sair uma RJ, quem vai querer comprar esses ativos?”, questiona Hugo Queiroz, da L4 Capital.

Ainda assim, ele avalia que a probabilidade de recuperação judicial é baixa. “A Petrobras está no capital e bancos como Caixa e Bradesco são credores relevantes. Uma RJ implicaria perdas reputacionais e financeiras imediatas, o que não interessa a ninguém neste momento”, diz.

Sobrevivência da Novonor em jogo

Para a Novonor, vender sua participação na Braskem tornou-se vital. A holding, que já vendeu outros ativos em meio à sua crise, ficaria praticamente sem receitas e apenas com dívidas caso não consiga concluir a operação.

“Vejo mais chances de solução do que de RJ. A Novonor deve vender parte da sua fatia, os bancos venderão outra, e um terceiro acionista capitalizará a empresa. É um cenário mais plausível que a recuperação judicial”, afirma Queiroz.

Enquanto a saída não se concretiza, a incerteza segue pressionando os papéis da companhia e deixando investidores em compasso de espera.

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