Adolescência eterna: estudo sugere que fase se estende até os 32 anos

A adolescência dura muito mais tempo do que se imaginava. Uma nova pesquisa da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, analisou quase 4 mil exames de ressonância magnética e identificou que as transformações cerebrais típicas desse período só chegam ao fim por volta dos 32 anos.

O trabalho, publicado na revista Nature Communications nessa terça-feira (25/11), descreve cinco grandes fases da vida neural, marcadas por mudanças profundas nas conexões do cérebro.

A equipe mapeou o desenvolvimento cerebral de pessoas de até 90 anos usando técnicas que rastreiam o movimento de moléculas de água no tecido nervoso.

Esse método permite visualizar como as redes de comunicação se reorganizam e como cada etapa molda habilidades cognitivas, personalidade e vulnerabilidades a diferentes condições de saúde.

As grandes viradas do cérebro humano

Segundo os autores, a primeira era, chamada de fase infantil, vai do nascimento aos nove anos. Nesse período, o cérebro passa por intensa reorganização, eliminando sinapses pouco usadas e fortalecendo conexões mais ativas. Esse refinamento prepara a estrutura neural para mudanças cognitivas que virão a seguir.

Por volta dos nove anos ocorre a primeira grande inflexão. A partir desse marco, o cérebro entra no que os pesquisadores definem como adolescência, fase em que a substância branca cresce em volume e as redes de comunicação se tornam mais eficientes. É justamente essa eficiência crescente que garante avanços importantes em raciocínio, atenção e velocidade de processamento.

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De acordo com a neurocientista Alexa Mousley, coautora da pesquisa, essa etapa é marcada por grandes transformações. Em comunicado, ela explica que a adolescência é a única fase da vida em que a eficiência neural aumenta de modo contínuo, o que ajuda a explicar por que esse período é tão determinante para a cognição.

Quando começa a fase adulta

Por volta dos 32 anos ocorre o ponto de virada mais intenso de toda a vida, quando as conexões mudam de direção e a arquitetura neural assume um padrão mais estável. É o início da fase adulta, considerada a mais longa. Entre os 30 e os 60 anos, o cérebro apresenta poucas alterações estruturais e mantém um desempenho mais uniforme.

Aos 66 anos surge o terceiro marco, que inaugura o envelhecimento inicial. Nessa etapa, a substância branca começa a perder integridade e a comunicação entre regiões cerebrais fica mais lenta.

A partir dos 83 anos, o estudo identifica o período de envelhecimento tardio, quando a conectividade diminui ainda mais e o cérebro passa a depender de rotas específicas para manter funções essenciais.

O professor Duncan Astle, um dos autores do estudo, afirma que entender essas eras ajuda a identificar momentos de maior vulnerabilidade. Ele lembra que muitas condições neurológicas e psiquiátricas têm relação direta com a forma como o cérebro se conecta. Por isso, saber quando essas redes mudam mais intensamente pode orientar tratamentos e políticas de saúde ao longo da vida.

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