Muitas alergias infantis, como eczema e asma, podem ocorrer devido a alterações na microbiota intestinal, comunidade de bactérias que vive dentro do intestino humano, segundo estudo liderado por pesquisadores da Universidade de British Columbia (UBC) e do BC Children’s Hospital, no Canadá.
A pesquisa, publicada na revista científica Nature Communications nesta terça-feira (29/8), identificou características da microbiota intestinal e sua influência no desenvolvimento de quatro alergias comuns em crianças: eczema, asma, alergia alimentar e febre do feno.
“Vemos cada vez mais crianças e famílias buscando ajuda no pronto-socorro devido a alergias”, explica o professor do departamento de pediatria da UBC Stuart Turvey, que também é pesquisador do BC Children’s Hospital, em entrevista ao EurekAlert.
Segundo a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), cerca de 30% da população brasileira sofre com algum tipo de alergia e 20% são crianças. A pesquisa procurou identificar se as pessoas alérgicas tinham uma origem comum ligada à composição da microbiota intestinal infantil, além de considerar fatores externos.
Os pesquisadores analisaram dados clínicos de 1.115 crianças acompanhadas desde o nascimento até os cinco anos. Um pouco menos da metade dos participantes, 523, não apresentaram alergias em nenhum momento, enquanto mais da metade, 592, foram diagnosticados com uma ou mais doenças alérgicas.
As amostras de fezes coletadas aos três meses e um ano de idade revelaram uma mudança nas populações bacterianas associadas ao desenvolvimento das quatro alergias até os cinco anos. A alteração sugere um desequilíbrio da microbiota intestinal, o que resulta no comprometimento do revestimento intestinal e em uma resposta inflamatória elevada no intestino.
Os pesquisadores definiram a microbiota de crianças alérgicas como imaturas — bactérias que se desenvolveram por mais tempo estão relacionadas a um organismo mais saudável.
Como a microbiota influencia
O corpo humano possui maneiras de lidar com tantas bactérias, que incluem a criação de uma barreira forte entre elas e as células de defesa do sistema imunológico. Esse obstáculo é capaz de controlar os sinais inflamatórios que poderiam fazer com que a defesa entrasse em ação e eliminasse os microrganismos.
Os cientistas identificaram um problema comum nesse mecanismo em bebês antes que as alergias se desenvolvam. “Isso sugere que essas ferramentas podem não estar funcionando corretamente em bebês propensos a desenvolver alergias, o que pode contribuir para o início dessas condições alérgicas”, afirma a pesquisadora Courtney Hoskinson.
Moduladores de microbiota
O estudo canadense identificou que fatores como dieta, tipo de parto, ambiente e exposição a antibióticos são moldadores da microbiota intestinal infantil. Os resultados indicaram que o uso de antibióticos no primeiro ano de vida aumenta a probabilidade de doenças alérgicas futuras, enquanto a amamentação nos primeiros seis meses oferece proteção.
A teoria é que os fatores moduladores podem eliminar as bactérias e influenciar em respostas inflamatórias. Os pesquisadores esperam usar essas descobertas para desenvolver tratamentos que corrijam o desequilíbrio da microbiota intestinal e potencialmente previnam o desenvolvimento de alergias.
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