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Amazônia enfrenta escalada inédita de temperaturas extremas em áreas ainda preservadas

por Redação Capital Brasília
2 de outubro de 2025
em Brasil, Política
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Amazônia enfrenta escalada inédita de temperaturas extremas em áreas ainda preservadas
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Em setembro do ano passado, o biólogo Cássio Alencar Nunes foi surpreendido ao sair para uma pesquisa de campo no Parque Nacional do Jaú, no estado do Amazonas. Seu objetivo era gravar os cantos de aves para estimar o tamanho da população de algumas espécies. Logo cedo, então, ele e colegas já estavam de gravador em punho no meio do parque. Mas às 7h, em vez de ouvir a algazarra tradicional da floresta ao amanhecer, o que eles escutaram foi o silêncio. Nada de pássaros, nem insetos, nem nada.

Ao medir a temperatura do local, ele encontrou uma possível explicação: temperaturas acima de 30°C. “A gente se assustou. Tava muito silêncio mesmo, muito diferente. Os bichos deviam estar realmente estressados com aquele calor, com aquela seca”, contou à Agência Pública. Estava tudo quieto como se fosse meio dia, quando o ar quente e abafado faz a bicharada se recolher, poupando energia. De manhãzinha, porém, é de se esperar uma sinfonia. Não naqueles dias.

O pesquisador tinha planejado sua expedição para meados do mês de setembro, contando que a temporada seca naquela região já estaria terminando, com a chegada das primeiras chuvas, o que faria com que os passarinhos estivessem mais ativos. Mas no ano passado, o clima na Amazônia foi totalmente atípico. 

Uma seca histórica e prolongada, com temperaturas bem mais elevadas que o normal, levou a um recorde de queimadas. Para toda a Amazônia, foi o segundo ano consecutivo de seca extrema – um quadro agravado pelas mudanças climáticas, segundo análises científicas. 

Aves estavam estranhamente silenciosas no Parque Nacional do Jaú (AM), no começo de setembro do ano passado, quando a Amazônia passava por seca extrema. Da esq. para dir., um cabeça-branca (Pseudopipra pipra), um cardeal-da-amazônia (Paroaria gularis) e um martim-pescador-verde (Chloroceryle amazona)

Diversas pesquisas lançadas nos últimos anos vêm alertando que a combinação de desmatamento com o aquecimento global tem deixado a Amazônia, uma floresta tropical úmida, muito mais inflamável. Mas um novo estudo, ao qual a Pública teve acesso antecipado, mostra que a mudança do clima está fragilizando até mesmo locais onde a floresta ainda está bastante preservada.

E a COP30 com isso?
  • Na COP30, a Amazônia estará no foco por vários motivos: é o desmatamento da floresta a principal fonte de gases de efeito estufa no Brasil – e o governo brasileiro assumiu um compromisso de zerá-lo; e o governo quer implementar um fundo que ajude a proteger florestas tropicais em todo mundo. Mas pesquisas vêm mostrando que a floresta também é vítima da mudança do clima e já vem sofrendo os impactos.
  • Nova pesquisa alerta que, mesmo se o desmatamento for zerado, se as emissões continuarem altas e o planeta continuar aquecendo, a floresta estará em grave risco.

Amazônia aquece duas vezes mais rápido nas temperaturas extremas do que na média global

Particularmente a região onde Nunes tentava escutar os pássaros, no centro-norte da Amazônia, enfrenta uma escalada inédita de temperaturas extremas. É o que mostra a pesquisa realizada por um grupo de 53 cientistas do Brasil e do exterior que avaliou a evolução das temperaturas e de índices como a secura do ar e o déficit de água da floresta em toda a bacia amazônica entre 1981 e 2023. 

O trabalho, financiado pelo WWF, aponta que os impactos do aquecimento global podem ser mais bem observados quando se olha para as ocorrências de extremos de temperatura na Amazônia, que cresceram mais rapidamente que o padrão médio de aumento da temperatura – normalmente o indicador mais considerado em estudos sobre a Amazônia. 

O padrão médio é o que se leva em conta quando os cientistas falam, por exemplo, que o planeta já aqueceu mais de 1,2°C desde a Revolução Industrial. Mas é nos extremos, com aquecimentos muito maiores que isso, onde ocorrem os maiores impactos para as pessoas e para a natureza. 

No caso da Amazônia, “períodos recentes excepcionalmente quentes e secos levaram a incêndios florestais sem precedentes, à mortalidade em larga escala de árvores, à mortalidade localizada de animais e a impactos negativos para o acesso humano a serviços e saúde”, escrevem os pesquisadores, que compõem a Rede Amazônia Sustentável.

À esquerda, floresta de igapó, que passa metade do ano alagada, intacta, sem nunca ter sofrido com o fogo no parque do Jaú. À direita, outra floresta de igapó no mesmo parque que sofreu duas queimadas consecutivas, em 2022 e 2023. Em setembro de 2024, ela ainda não havia se recuperado

E é nesses extremos onde mora o perigo. O grupo observou que enquanto a temperatura média na Amazônia subiu no mesmo ritmo observado globalmente, de 0,21 °C por década desde os anos 1980, as temperaturas extremas subiram muito mais: 0,5 °C por década, ou cerca de 2 °C nesse período de 43 anos. Ou seja, em um período de vida de uma pessoa, as temperaturas mais altas na Amazônia ficaram em média 2 °C mais quentes.

Isso considerando uma média de extremos para a Amazônia inteira. Mas a pesquisa inova também ao revelar que esse aquecimento não ocorre de modo homogêneo. O cenário fica bem mais dramático quando se olha para a variação espacial. 

Os cientistas dividiram o mapa da bacia amazônica em quase 58 mil células (quadrados de 11 km x 11 km) e analisaram, em cada uma, múltiplas variáveis climáticas: as mudanças de temperatura (mínimas, médias e máximas), da umidade do ar (ou déficit de pressão de vapor – VPD, na sigla em inglês) e o quanto a floresta transpirou e evaporou mais do que recebeu de chuva no período de 43 anos (ou déficit de água – MCWD). 

A análise confirmou uma tendência que já tinha sido observada em outros estudos: de que a temperatura média subiu mais no sul da Amazônia, na região conhecida como “arco do desmatamento”, onde a perda da vegetação nativa se concentrou nas últimas décadas. 

Mas descobriu que as temperaturas extremas tiveram maior taxa de crescimento no centro-norte, em uma grande faixa que vai do centro do Amazonas a Roraima, justamente onde se encontra parte do Parque Nacional do Jaú, estudado por Nunes.

Nessa área, que corresponde a 10% de toda a Amazônia, as temperaturas extremas subiram 0,77 °C por década no período mais seco – mais de 3,3 °C em 43 anos. O recorde histórico de temperaturas máximas é particularmente preocupante porque essa é uma região ainda bem preservada, com longos trechos de floresta contínua protegidas, como unidades de conservação, como o parque do Jaú, e terras indígenas, como a Waimiri-Atroari e a Yanomami. 

Que a Amazônia está esquentando, não é novidade.

A temperatura média ao longo dos últimos 43 anos teve um aumento similar ao que ocorreu na média global de aquecimento, de 0,21°C por década.

Esse aumento se concentrou no chamado Arco do desmatamento.

Mas quando se analisam os extremos de temperatura, o resultado é impressionante.

Durante a época de seca na Amazônia, as temperaturas extremas aumentaram em média 0,5°C por década.

Só que nesta faixa que cobre o centro do estado do Amazonas e sobe em direção noroeste, até Roraima, uma das regiões mais preservadas da Amazônia, o aumento das temperaturas extremas foi ainda maior.

Na época de seca nessa região, as temperaturas máximas extremas subiram mais de 0,77°C por década, um aumento de pelo menos 3,3°C entre 1981 e 2023.

Nesta área estão localizadas terras indígenas como a Yanomami, Waimiri Atroari e Coata-Laranjal.

E unidades de conservação federais. Tanto as de proteção integral, como o Parque Nacional do Jaú,…

quanto as de uso sustentável.

É um alerta de que mesmo onde não há desmatamento – tradicionalmente a maior ameaça para a integridade da região –, a Amazônia está em risco por causa das mudanças climáticas. 

O estudo – liderado por Jos Barlow e pela especialista em sensoriamento remoto Nathália Carvalho, ambos da Universidade de Lancaster, no Reino Unido, e do qual Cássio Alencar Nunes é um dos principais autores – ainda está passando por revisão de pares para ser publicado em revista científica, mas já está disponível em formato de pré-print na plataforma EarthArXiv. 

A divulgação foi antecipada para chamar a atenção para as alterações que a mudança do clima já está causando na floresta no momento em que a Amazônia vai receber a mais importante discussão sobre o assunto do mundo, a 30ª Conferência do Clima da ONU, a COP30, em Belém.

Mudanças pedem políticas públicas além do combate ao desmatamento

“O que nosso trabalho mostra é que não é apenas com o sul da Amazônia que a gente tem de se preocupar. O foco nessa região é válido, por causa do grande desmatamento que ela já sofreu, mas vimos que o norte também está frágil, está mudando muito rapidamente e talvez não esteja adaptado para esse nível de calor e de seca”, diz Barlow.

“Em muitos estudos, o norte é colocado como um refúgio para onde os animais podem se deslocar porque o sul vai ficar muito quente, mas talvez ele não vá ser um refúgio válido [porque está esquentando muito também]. E isso é importante”, complementa o pesquisador. De fato, é nesta área onde foi observada a primeira mortalidade em massa de mamíferos terrestres em 2023. 

Os autores apontam que ainda são necessárias mais investigações para entender por que essa área específica do centro-norte está experimentando as maiores taxas de aumento de temperaturas extremas. Mas afirmam que já é preciso pensar políticas públicas que levem em conta que “a mudança climática na Amazônia não é nem gradual nem homogênea”. 

“Essa dissociação espacial [do rápido aumento de temperaturas extremas no centro-norte] com a perda da floresta – o principal fator local das mudanças climáticas – demonstra que os países com as maiores emissões de gases de efeito estufa do mundo têm forte responsabilidade pelas rápidas mudanças nas condições socioecológicas da Amazônia, escrevem. 

“Isso reforça mais uma vez a necessidade urgente de reduções rápidas nas emissões de gases de efeito estufa e reforça os argumentos de que os países com altas emissões devem contribuir para intervenções de adaptação e conservação em regiões de florestas tropicais por meio de mecanismos como o Fundo de Resposta a Perdas e Danos ou iniciativas inovadoras como o Fundo Florestas Tropicais para Sempre [TFFF]”, recomendam ao final do trabalho.

De todo modo, é preciso, sim, evitar que o desmatamento avance para essa região. O corte da floresta “amplificaria as mudanças de temperatura e exporia as florestas remanescentes a riscos maiores de incêndio”, escrevem.

É o que um outro estudo – publicado por parte do mesmo grupo de pesquisadores em agosto deste ano na revista Annual Review of Environment and Resources – chamou de “efeito martelo”. “A mudança climática já é uma pressão naquela região. Se acrescentar o desmatamento, é como se estivesse martelando uma área já muito fragilizada”, explica a ecóloga Joice Ferreira, pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental, uma das fundadoras da Rede Amazônia Sustentável e autora dos dois papers.

Ela afirma que o resultado apresentado agora traz uma preocupação extra justamente porque se imaginava que, por não ter sido desmatado, o centro-norte estaria relativamente resguardado. “A gente estava sempre vendo a pintura de que o sul-sudeste da Amazônia era o mais afetado, e realmente é. E pensava que se salvasse do desmatamento aquela região, que a gente achava que estava mais ou menos tranquila, estaria tudo bem. E agora a gente está vendo que não”, afirma Ferreira.

Com o agravante de que nessa região do centro-norte vivem muitas populações tradicionais e indígenas, que dependem dos produtos da floresta para viver. “De açaí, de castanha, dos peixes. Tudo isso fica abalado nesse contexto de temperaturas mais altas”, pontua Ferreira. “A gente espera que, com a temperatura aumentando, haja uma degradação da floresta, que entra num processo fisiológico de estresse e, com isso, mais mortalidade das árvores. A produção dos frutos cai”, continua a pesquisadora.

E isso, alerta ela, pode ter um impacto sobre a tão falada bioeconomia. “O que é posto hoje na mesa como uma solução para a Amazônia, que é fortalecer as sociobioeconomias e a restauração florestal, além da conservação, é claro, isso tudo fica comprometido. A janela de oportunidade fica reduzida”, alerta Ferreira.

“É preciso pensar políticas públicas focadas na questão social, porque as mudanças estão afetando principalmente os povos tradicionais que estão nessa região”, recomenda Nathália Carvalho. 

“E não adianta só falar disso nos anos em que a gente tem os eventos extremos, porque se a pessoa perde a colheita dela, como é que ela vai sobreviver nos anos seguintes ao efeito do extremo. Tem que ser um auxílio a longo prazo, porque os efeitos vêm a longo prazo”, afirma.

“A gente não pode mais dizer como vai ser o amanhã”

Quem está na ponta sente que perdeu até mesmo a previsibilidade para planejar cultivos ou qualquer outra atividade que traga renda. “A gente não pode dizer: vem em tal tempo que vai tá seco. A gente não pode marcar, porque você sabe que mudou o clima. Tem um diferencial de um ano pro outro, um ano tá seco, outro ano tá cheio e a gente não sabe mais”, conta Eduardo Elisio de Souza, o Sibá, morador da comunidade Cachoeira, dentro do Parque Nacional do Jaú.

Sibá tem parte dos seus ganhos com turismo e foi ele que guiou Cássio Nunes e colegas nas pesquisas de campo no ano passado. O nome da sua comunidade deriva de uma cachoeira no rio Jaú que só aparece na estação mais seca do ano, quando o rio baixa ao máximo e a corredeira se torna visível. Esse aparecimento costumava ocorrer por volta de 10 de outubro, mas no ano passado, com a seca extrema, ela já estava “de fora”, como ele conta, em setembro.

Rio Jaú na altura da comunidade da Cachoeira, no Parque Nacional do Jaú (AM), em setembro de 2024
Rio Jaú na altura da comunidade da Cachoeira, no Parque Nacional do Jaú (AM), em setembro de 2024

“Um mês antes, já estava tão seco quanto deveria ser o mais seco possível. Tanto que a gente teve que transpor essa cachoeira carregando a voadeira [barco rápido], porque não passava mais barco, nem nada. Foi bem crítico”, lembra Nunes. 

Neste ano, mais ou menos na mesma época, Sibá conta que as pedras ainda estavam no fundo do rio. “A gente ainda passa com o barco por cima”, contou quando conversou com a Pública, em meados de setembro. “Fica essa incerteza muito ruim, porque a gente não pode mais dizer como vai ser o amanhã. Quando o clima estava normal, a gente podia definir.”

Não é só o turismo que está sendo afetado. Sibá relata que as castanheiras da região estão produzindo menos e, no ano passado, muitos peixes morreram na comunidade. 

São alterações profundas nos modos de vida dessas populações que demandam ações específicas de adaptação. E uma das mais urgentes, apontam os pesquisadores, é conseguir evitar incêndios florestais, o que passa também por controlar o próprio uso tradicional do fogo.

Impedir ocorrência do fogo se torna prioridade

O aumento das temperaturas e a consequente perda da umidade do ar têm deixado a floresta muito mais inflamável. Os dois últimos anos tiveram incêndios extensos e severos, sendo que, em 2024, a Amazônia bateu o recorde de área queimada desde 1985, de acordo com levantamento do MapBiomas. 

Foram 15,6 milhões de hectares queimados, área 117% superior à média histórica e quase o tamanho do estado do Acre. Há uma mudança importante: pela primeira vez, o que mais queimou na Amazônia foram as florestas mesmo – vegetação em pé (43% do total). Historicamente, o que mais queimava eram pastagens e áreas recém-desmatadas (com o objetivo de acabar de “limpar a área”). Nesse processo, o fogo, eventualmente, escapava para dentro da mata. 

Em 2024, o cenário foi completamente diferente e perturbador. Primeiro, porque o desmatamento está em queda, desde 2023, o que diminui esse material orgânico a ser “limpado” com o fogo. Quando se observa a série histórica, normalmente quando o desmatamento cai, o fogo também diminui. Nos últimos dois anos, porém, essa regra não se sustentou.

“Grandes áreas de floresta queimaram em toda a Amazônia brasileira. A gente teve áreas inundadas pegando fogo. A gente teve fogo subterrâneo. Foi uma situação calamitosa, que mostra que o fogo é o atual problema. O que mostra que o fogo é o atual problema da Amazônia”, comenta Érika Berenguer, pesquisadora da Universidade de Oxford, na Inglaterra, e uma das maiores estudiosas de fogo no Brasil.

Berenguer, que também assina o estudo das temperaturas extremas, conta que, em 2023, chegou a ver fogo na copa das árvores, o que é absolutamente incomum na região. O fogo na Amazônia, justamente porque se trata de uma floresta tropical e úmida, é mais rasteiro, de 30 a 50 centímetros de altura no máximo, mas comprido, com a linha de fogo se estendendo por quilômetros. 

Pesquisadora mede o comportamento do fogo durante a estação seca de 2023 na Floresta Nacional do Tapajós (PA)

Mas ela testemunhou, em uma região que já havia pegado fogo em 2015 – um ano particularmente seco e também com muitas queimadas –, as chamas escalando árvores jovens, de 15 metros de altura, que tinham crescido depois desse incêndio anterior, e passando de uma copa a outra. 

Como estuda o comportamento do fogo, a pesquisadora se viu muitas vezes tendo de ajudar a conter as chamas ao longo dos seus anos de trabalho. “Mas aquela foi a primeira vez que eu saí correndo. Foi a primeira vez que eu realmente tive medo do fogo”, conta.

Ela ressalta que o cenário de aquecimento global traz novas dificuldades e impõe um cuidado extra com o fogo na principal política pública ambiental para a Amazônia, o programa de combate ao desmatamento (PPCDAm).

“O desmatamento continua sendo um problema. A gente sabe que seu combate varia muito de acordo com quem está no governo. Então não é como se o desmatamento tivesse resolvido. Porém, havendo uma base sólida de combate, a gente vê quedas impressionantes, como ocorreu em 2023 e 2024. Agora, apesar dessa queda, houve um aumento absurdo em incêndios florestais. Então, infelizmente, não é mais o bastante combater só o desmatamento. As políticas públicas têm que mudar. Porque o mundo mudou”, alerta a pesquisadora.

No contexto da realização da COP30, Berenguer e os demais pesquisadores reforçam que é essencial diminuir as emissões de gases de efeito estufa de todo o mundo para salvar a floresta. “Não é só diminuir o desmatamento. Para preservar a Amazônia, a gente tem que ter países do norte global, a China, diminuindo suas emissões para conter o aquecimento global”, diz.

Internamente, no entanto, também é importante focar em estratégias de adaptação para aumentar a resiliência das regiões já afetadas e para se pensar em estratégias aos usos do fogo na Amazônia. 

Berenguer lembra que um passo importante foi dado com a aprovação de uma lei que cria o Plano de Manejo Integrado do Fogo e busca exatamente ter ações específicas nesse sentido. 

Mas ela pede uma atenção especial para a prevenção ao fogo. “Contratar mais brigadistas é importante, mas a Amazônia é 60% do território, é uma área muito grande para combater. Precisamos de um cardápio de várias soluções para o que o fogo nem comece, porque uma vez que começa, é muito mais difícil controlar.”

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