A Braskem, maior petroquímica da América Latina, anunciou nesta semana um investimento histórico de R$ 4,3 bilhões para expandir sua unidade industrial em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. O aporte, o maior realizado pelo setor no Brasil nos últimos 15 anos, foi oficializado durante visita do governador Cláudio Castro e do prefeito Netinho Reis às instalações da empresa.
Batizado de “Transforma Rio”, o projeto prevê aumento da capacidade produtiva de polietileno em 230 mil toneladas por ano, com início das operações estimado para 2028. Segundo Stefan Lanna Lepeck, vice-presidente de Negócios América do Sul da Braskem, o objetivo é fortalecer a presença da empresa no Rio de Janeiro, modernizar as operações com tecnologias avançadas e ampliar a competitividade da indústria nacional do plástico.
Além da inovação tecnológica, a iniciativa promete movimentar a economia fluminense e gerar empregos, principalmente na Baixada, uma das regiões com maiores índices de desigualdade do estado.
Cicatrizes abertas em Maceió
Apesar do otimismo com o futuro, a trajetória da Braskem no Brasil traz feridas ainda abertas. Em Maceió, capital de Alagoas, a atuação da empresa, que incorporou a antiga sal-gema nos anos 1970, é marcada por uma das mais graves crises socioambientais do país.
A extração intensiva de sal-gema comprometeu o subsolo de cinco bairros densamente povoados. Desde 2019, cerca de 60 mil pessoas vivem sob risco constante de afundamentos e tremores, situação agravada por alertas da Defesa Civil. Estudos apontam que a atividade da Braskem foi a causa direta da instabilidade, transformando o solo em uma estrutura frágil, comparada a um “queijo suíço”.
O marco da tragédia foi um tremor registrado em 2018, que provocou rachaduras em casas e escancarou a gravidade do fenômeno. Desde então, mais de 14 mil imóveis foram evacuados e milhares de famílias realocadas. A empresa implantou programas de compensação financeira e auxílio para mudança, mas muitos atingidos ainda enfrentam dificuldades de reintegração social, desemprego e distanciamento de suas redes de apoio.
Silêncio e falta de transparência
Por anos, os alertas sobre os impactos da mineração foram minimizados, tanto pela Braskem quanto pelas autoridades. A preocupação inicial se restringia a possíveis vazamentos químicos, ofuscando o verdadeiro perigo que se acumulava no subsolo da cidade.
A falta de comunicação clara e a demora em assumir responsabilidades alimentaram a desconfiança da população. Para muitos, a tragédia de Maceió é símbolo de um “monstro silencioso” que só ganhou atenção quando os danos se tornaram visíveis e irreversíveis.
Desenvolvimento com responsabilidade
Diante do novo investimento no Rio de Janeiro, especialistas e representantes da sociedade civil reforçam a necessidade de vigilância e responsabilidade. O crescimento industrial precisa caminhar lado a lado com a transparência, o diálogo com as comunidades e o respeito ao meio ambiente.
O desafio que se impõe à Braskem é garantir que os erros do passado não se repitam, e que o “Transforma Rio” não apenas expanda a produção de polietileno, mas também promova um modelo de desenvolvimento comprometido com a vida e a dignidade das pessoas.