O Banco Central decretou nesta terça-feira (18) a liquidação extrajudicial do Banco Master, encerrando definitivamente as negociações para a venda da instituição ao Grupo Fictor — anunciada menos de 24 horas antes. A decisão, assinada pelo presidente do BC, Gabriel Galípolo, também determinou a intervenção imediata na corretora de câmbio vinculada ao banco.
A liquidação ocorre no mesmo dia em que o controlador do Master, Daniel Vorcaro, foi preso pela Polícia Federal em São Paulo, no âmbito da Operação Compliance Zero, que apura um esquema de emissão de títulos de crédito falsos no Sistema Financeiro Nacional. A PF investiga crimes como gestão fraudulenta, gestão temerária e organização criminosa.
Na segunda-feira (17), a Fictor Holding Financeira anunciou acordo para adquirir 100% das ações do Banco Master, em parceria com investidores dos Emirados Árabes Unidos. O grupo previa um aporte imediato de R$ 3 bilhões para reforço de capital e mudança do nome da instituição para Banco Fictor.
O negócio, porém, dependia de aval do BC e do Cade. Com a liquidação, a operação torna-se automaticamente inviável.
Essa foi a segunda tentativa de venda frustrada do Master em poucos meses. Em setembro, o Banco Central já havia barrado a proposta do Banco de Brasília (BRB) para adquirir 58% do capital da instituição. O conselho do BRB havia aprovado a operação em março de 2025, mas o regulador vetou o negócio por avaliar que o banco brasiliense poderia herdar dívidas e ativos problemáticos não contemplados formalmente no acordo — o chamado “risco de sucessão”.
Nesta terça, o presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, foi afastado da função pela Justiça. Ele é alvo de mandado de busca e apreensão e de outras medidas cautelares.
Modelo de negócios sob questionamento
O Banco Master já despertava preocupação entre reguladores e especialistas do mercado. A instituição emitia papéis garantidos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) com taxas de retorno muito acima do padrão do setor. O modelo era considerado arriscado e vinha sendo monitorado pelo BC.
Com a liquidação extrajudicial, o banco encerra suas operações, e o processo passa a ser conduzido por um liquidante nomeado pelo Banco Central.
Operação Compliance Zero
A prisão de Vorcaro integra a Operação Compliance Zero. Segundo investigadores, em 2024 o Ministério Público Federal requisitou à PF a apuração de suposta fabricação de carteiras de crédito insubsistentes por uma instituição financeira.
Esses títulos teriam sido repassados a outro banco e, após fiscalização do BC, substituídos por ativos sem avaliação técnica adequada. A operação cumpre cinco mandados de prisão preventiva, dois temporários e 25 mandados de busca e apreensão em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Distrito Federal.
Em nota, o Banco Master afirmou que Daniel Vorcaro já constituiu equipe de defesa:
“No mesmo dia, advogados, por ele e pelo Banco Master, colocaram-se, como já haviam feito antes, à disposição para cooperar com as autoridades, prover informações, participar de audiências, inclusive com a presença de Vorcaro.”
A instituição também reiterou que o acionista controlador estava viajando para se encontrar com representantes da Fictor Holding e dos investidores dos Emirados Árabes, como parte das tratativas da venda que, agora, não terá continuidade.
A liquidação do Banco Master representa um dos movimentos mais contundentes do BC neste ano e reforça o escrutínio sobre instituições que adotam modelos de captação considerados agressivos e opacos.