As contradições dos depoentes na sessão desta quinta-feira (31/8) da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Distrito Federal fizeram com que o presidente do colegiado, deputado distrital Chico Vigilante (PT), acionasse a Polícia Civil e o Ministério Público.
A CPI ouviu dois acusados por atos antidemocráticos, o indígena José Acácio Serere Xavante, conhecido como Cacique Tserere, e o autônomo Armando Valentin Settin Lopes de Andrade, de 46 anos, preso em flagrante no próprio 8 de Janeiro, horas após participar da invasão às sedes dos Três Poderes.
“O Armando disse que não disse o que está no depoimento na Polícia Civil. Portanto, ainda hoje estarei encaminhando o depoimento para a PCDF pedindo que seja aberto um inquérito civil, que a polícia apure”, afirmou Chico.
O autônomo assinou o termo de declaração de depoimento na corporação, mas, na CPI, negou alguns trechos que ele mesmo disse e confirmou aos delegados.
“Estamos encaminhando ao MP o depoimento do cacique, porque ele mentiu aqui. Estamos encaminhando para que seja apurado. Poderíamos decretar a prisão dele, mas ele já está preso. Mas vamos apurar para que ele responda a mais um processo”, comentou o presidente da CPI sobre o indígena.
Tserere é um autodenominado pastor que ganhou notoriedade entre grupos bolsonaristas desde que as manifestações em frente ao Quartel-General do Exército começaram em Brasília, tendo liderado vários protestos em locais públicos contra o resultado das eleições.
Sempre sem camisa e com o corpo pintado, ele promovia os atos para criticar o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, e afirmar, sem provas, que teria havido algum tipo de fraude no pleito presidencial que deu a vitória a Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Na última segunda-feira (28/8), o Supremo Tribunal Federal (STF) negou pedido de habeas corpus ao indígena.
Ameaça e perseguição
Por decisão de Moraes, o cacique acabou preso em 12 de dezembro de 2022 por ameaça, perseguição e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. A prisão gerou revolta dos bolsonaristas, que tentaram invadir a sede da Polícia Federal, atacaram as forças de segurança, depredaram edifícios do Centro de Brasília e incendiaram veículos.
Já Armando Valentin chegou a admitir à Polícia Civil do Distrito Federal que lideranças do acampamento bolsonarista no QG do Exército planejavam atentados a bomba na capital.
O apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) contou ter frequentado o QG diariamente, por mais de 40 dias, estabelecendo uma relação de confiança com lideranças do local.
Essa proximidade teria lhe garantido participar de três reuniões restritas com essas pessoas, momento em que teria ouvido os planos de ataques. “(…) No acampamento, vários organizadores sugeriam colocar bombas para derrubar a ponte da rodoviária de Brasília e que também sugeriam incendiar veículos em estação de energia de Brasília”, contou Andrade.