Dois empresários investigados na Operação Wrong Way, deflagrada pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), nesta quinta-feira (6/11), são sócios em uma loja de carros localizada na Cidade do Automóvel. O que chamou ainda mais atenção dos investigadores da 18ª Delegacia de Polícia (Brazlândia) foi o fato de que ambos exercem funções em órgãos de segurança pública: um deles é agente de trânsito do Detran e o outro é segundo-sargento do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF).
São o segundo-sargento do CBMDF Aldo Henrique Gomes Costa e o agente do Detran Bruno Cesar Fernandes da Silva, que figuram como sócios na loja Eurocar Comércio de Veículos, situada na Cidade do Automóvel.
Os dois foram alvo de mandados de busca e apreensão acompanhados pelas corregedorias das respectivas corporações. Segundo as apurações, os empresários utilizavam contas bancárias em nome de familiares — apontados como “laranjas” — para movimentar valores recebidos de um esquema de fraudes na transferência de veículos.
O Metrópoles tenta contato com a defesa do sargento do CBMDF, do agente do Detran e da loja Eurocar. A reportagem também procurou o Corpo de Bombeiros e o Detran. O texto será atualizado em caso de manifestação.
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A megaoperação mobilizou cerca de 120 policiais civis e cumpriu 45 mandados de busca e apreensão em diversas cidades do Distrito Federal e do Entorno. As ações ocorreram em locais como Cidade do Automóvel, Taguatinga, Águas Claras, Vicente Pires, Ceilândia, Santa Maria, Riacho Fundo, Noroeste, Vila Planalto, São Sebastião, além de Pedregal e Águas Lindas de Goiás.
Centenas de Transferências
As investigações apontam que dois servidores do Detran, incluindo um dos sócios da loja de veículos, eram responsáveis por emitir Autorizações de Transferência de Propriedade de Veículo (ATPV-e) sem qualquer conferência documental, mediante pagamento de R$ 150 por processo.
Durante um ano de investigação, a PCDF identificou centenas de transferências fraudulentas realizadas para 36 empresários ligados a pelo menos 15 empresas de compra e venda de carros. Muitos destes estabelecimentos atuavam como despachantes informais, oferecendo aos clientes veículos já transferidos sem necessidade de visita ao Detran.
Os levantamentos também revelaram movimentações financeiras incompatíveis com a renda dos investigados. Em alguns casos, valores movimentados chegavam a 10 vezes o salário mensal dos servidores. Para ocultar a origem do dinheiro, os investigados utilizavam contas de parentes próximos, configurando lavagem de capitais.
Senhas compartilhadas
Além disso, perícias comprovaram que senhas funcionais foram compartilhadas ilegalmente, permitindo acesso indevido ao sistema interno do órgão por terceiros — incluindo familiares dos servidores envolvidos.
Segundo o delegado-chefe da 18ª DP, Fernando Cocito, o esquema era operado de forma organizada: “Empresários enviavam documentos, por vezes falsos, para os servidores, que então realizavam as transferências diretamente no sistema, ignorando as exigências legais. Em troca, recebiam pagamento por operação”, explicou.
A Operação Wrong Way segue em curso, e novas fases não estão descartadas. A PCDF afirma que o foco agora é identificar outros eventuais beneficiários do esquema.
