Brasil enfrenta crise diplomática com Nicarágua: Expulsão de embaixador pode agravar tensões

Foto: Cesar Perez / Nicaraguan Presidency / AFP

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, reuniu-se na manhã desta quinta-feira com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para discutir a iminente expulsão do embaixador brasileiro na Nicarágua, Breno Souza da Costa. A medida, que deve ser formalizada ainda hoje, representa um duro golpe nas relações diplomáticas entre os dois países, efetivamente encerrando qualquer diálogo formal.

A conversa entre o presidente e o chanceler ocorreu antes de uma reunião ministerial convocada por Lula, e a informação sobre o encontro foi confirmada pelo Itamaraty. A decisão nicaraguense de expulsar o representante brasileiro, segundo fontes da imprensa local, é uma retaliação à ausência do Brasil nas comemorações do 45º aniversário da Revolução Sandinista, evento ocorrido em 19 de julho em Manágua, capital da Nicarágua. A Revolução Sandinista marcou o fim de uma ditadura que perdurava desde 1936.

A Nicarágua, atualmente classificada como uma autocracia pelo índice V-DEM, vive sob um regime que concentra o poder político em uma única figura, o presidente Daniel Ortega. As tensões entre Brasília e Manágua já vinham se acumulando há algum tempo, principalmente após o Brasil decidir congelar as relações diplomáticas há cerca de um ano. Esse congelamento foi uma resposta à crescente repressão do governo Ortega contra a Igreja Católica, incluindo a prisão de padres e bispos que se opunham ao regime.

O Itamaraty informou que a ausência do embaixador brasileiro no evento de julho deveu-se justamente ao congelamento das relações diplomáticas. Nos últimos anos, a Nicarágua tem enfrentado uma grave crise de direitos humanos, com o governo Ortega reprimindo violentamente opositores políticos, proibindo atividades religiosas católicas, e fechando universidades, ONGs e veículos de imprensa. Desde 2018, a crise política e humanitária no país tem se aprofundado, resultando em mais de 300 mortes durante protestos, conforme dados da ONU.

Em 2022, a ofensiva do governo nicaraguense contra a Igreja Católica intensificou-se, com confisco de propriedades, dissolução de ordens religiosas e a prisão de clérigos que criticavam o regime autoritário de Ortega. O Brasil, na época, adotou um papel de mediador entre o Vaticano e Manágua, buscando a libertação dos religiosos detidos. No entanto, essa postura brasileira resultou, na semana passada, em uma queixa formal apresentada pelo governo Ortega à embaixada do Brasil.

A crise diplomática entre os dois países atinge agora um novo patamar, com a provável expulsão do embaixador brasileiro, deixando incerto o futuro das relações entre Brasília e Manágua.

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