O Brasil está prestes a entrar de vez na disputa global por insumos que moldarão o futuro da energia e da tecnologia. Com aproximadamente 10% das reservas mundiais de minerais críticos e estratégicos, como o lítio, nióbio e urânio, o país tem a chance de transformar esses recursos em motores de desenvolvimento econômico, inovação e poder geopolítico.
No dia 1º de julho, o Senado Federal realiza o seminário “Políticas de Minerais Críticos e Estratégicos no Brasil”, organizado pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). O evento reunirá representantes do governo, da indústria mineral, da academia e da sociedade civil para debater políticas públicas voltadas à exploração sustentável desses recursos e à construção de uma cadeia nacional de valor.
A proposta é ambiciosa: posicionar o Brasil como protagonista na transição energética mundial, integrando suas reservas minerais às demandas por energia limpa, tecnologias estratégicas e segurança global.
Uma nova fronteira para o Brasil
O evento chega em um momento estratégico. O avanço da transição energética e das tecnologias de ponta — como baterias, veículos elétricos, turbinas eólicas, semicondutores e sistemas de defesa — tem impulsionado a demanda por minerais críticos. Ao mesmo tempo, a oferta global desses insumos permanece altamente concentrada em poucos países, o que acende alertas sobre riscos econômicos e geopolíticos.
No Brasil, o seminário será dividido em dois blocos. O primeiro tratará de “Desenvolvimento Econômico e Transição Energética”, com a presença esperada do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, da ex-senadora Kátia Abreu e de executivos da Sigma Lithium, Vale e Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM). O segundo bloco debaterá os “Desafios Legislativos e Regulatórios”, com juristas e representantes da Agência Nacional de Mineração (ANM).
Conexão internacional: COP30 e o Green Paper
A movimentação interna dialoga com articulações externas. Em junho, o Seminário Internacional de Minerais Críticos e Estratégicos (SIMCE), realizado em Brasília, lançou o Green Paper, documento que propõe a inserção da pauta mineral brasileira nas negociações da COP30, em Belém (PA). A ideia é conectar a exploração de minerais estratégicos ao cumprimento de metas climáticas, posicionando o Brasil como fornecedor seguro e sustentável no mercado internacional.
Durante o SIMCE, o Serviço Geológico do Brasil (SGB) reforçou que o fortalecimento da indústria mineral exige investimento em ciência, inovação e conhecimento geocientífico, como base para políticas públicas modernas e responsáveis.
“O lítio, o nióbio e o urânio representam uma nova camada do pré-sal brasileiro. Precisamos olhar para esses recursos com planejamento e estratégia de longo prazo”, destacou Valdir Silveira, diretor do SGB.
A ameaça da concentração global
A importância do tema foi reforçada por um alerta recente de Fatih Birol, diretor executivo da Agência Internacional de Energia (AIE). Em artigo publicado este mês, Birol afirma que a cadeia de suprimento dos principais minerais energéticos, cobre, lítio, níquel, cobalto, grafite e terras raras, está cada vez mais concentrada.
“Os três maiores produtores controlam cerca de 90% da oferta global desses minerais. Trata-se de um risco não só energético, mas econômico e geopolítico”, pontuou.
A China, sozinha, domina mais de 70% da capacidade de refino de minerais críticos — o que significa que, mesmo quando extraídos em outros países, os insumos acabam retornando com alto valor agregado. Essa dependência cria vulnerabilidades e aumenta a pressão para que países como o Brasil estruturem suas próprias cadeias de transformação e inovação.
O desafio: deixar de ser apenas fornecedor
A proposta defendida por Birol, e que também se discute no Senado, é clara: não basta extrair — é preciso refinar, transformar, produzir tecnologia e agregar valor dentro do país.
Para isso, são necessárias políticas públicas de incentivo, parcerias internacionais, transferência de tecnologia e desenvolvimento de infraestrutura industrial. Birol também sugere o uso de inteligência artificial na prospecção de novas jazidas e defende incentivos à mineração com alto padrão ambiental.
“Se deixados por conta própria, os mercados não vão garantir o nível necessário de diversificação. É preciso ação coordenada entre governos e indústria”, conclui.
A hora de agir é agora
O Brasil tem uma oportunidade rara de transformar seu potencial mineral em liderança estratégica. A transição energética e a nova economia global já estão em curso, e quem dominar a cadeia dos minerais críticos terá vantagem tecnológica, econômica e política.
O seminário no Senado pode ser o ponto de partida de um novo ciclo para o país: um ciclo em que o Brasil não apenas extrai riquezas, mas define seu papel como potência verde, industrial e inovadora.