A recente aquisição de 58% do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB) levanta questionamentos que vão além dos números. Nos bastidores, a operação foi impulsionada por interesses políticos que reforçam a aliança do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), com lideranças de partidos estratégicos para as eleições de 2026. A informação foi publicada pela colunista Natália Portinari, do UOL.
O presidente do Banco Master, Daniel Vorcaro, estreitou laços com Ciro Nogueira, presidente do PP, e Antônio Rueda, do União Brasil, dois nomes fundamentais para os planos políticos de Ibaneis. O governador, que deve disputar uma vaga no Senado em 2026, aposta na candidatura de sua vice, Celina Leão (PP), ao governo do DF.
Política e finanças interligadas
Diante da dificuldade de encontrar um comprador no setor privado, os sócios do Banco Master recorreram à influência política para viabilizar a venda. O movimento teve início em 2023, com a atuação de Flávia Peres, ex-ministra do governo Bolsonaro e ex-mulher de José Roberto Arruda (PL). Casada com Augusto Lima, sócio do Master, Flávia facilitou o contato de Vorcaro com Ciro Nogueira, que abriu portas para o banqueiro na capital federal.
O impacto da influência política ficou evidente quando Nogueira tentou aumentar a cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) de R$ 250 mil para R$ 1 milhão por conta, medida que beneficiaria diretamente o Banco Master ao atrair mais investidores para seus CDBs. A proposta foi incluída em uma PEC sem relação direta com o tema, mas acabou rejeitada no Senado.
A consolidação das relações políticas do Banco Master passou por eventos estratégicos. Em fevereiro, um dia após a eleição de Hugo Motta (Republicanos-PB) como presidente da Câmara, Vorcaro participou de uma festa privada em Brasília, ao lado de figuras influentes.
Semanas depois, no Carnaval do Rio de Janeiro, o Banco Master patrocinou um camarote exclusivo na Sapucaí, reunindo Ciro Nogueira, Antônio Rueda e Isnaldo Bulhões (MDB-AL). Testemunhas relataram luxo e ostentação, com garrafas de champagne Dom Pérignon servidas até nos banheiros.
O impasse do mercado financeiro
Antes da negociação com o BRB, o Banco Master manteve tratativas com André Esteves, do BTG Pactual, que propôs assumir a operação, mas sem incorporar o banco de Vorcaro ao patrimônio do BTG. A oferta era simbólica: R$ 1.
O mercado financeiro vê com preocupação os R$ 50 bilhões em depósitos do Banco Master, que representam 50% da liquidez do FGC. O temor é de que a operação seja uma “bomba-relógio” para qualquer comprador. Nos últimos dias, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, se reuniu com Esteves e Paulo Henrique Costa, presidente do BRB, para discutir os desdobramentos da aquisição.
Costa afirmou à colunista Mariana Barbosa, do UOL, que o BRB ficará apenas com os ativos saudáveis do Banco Master. No entanto, analistas ainda questionam se será possível separar completamente os ativos problemáticos dos sólidos.
Procurados pela reportagem, Ciro Nogueira e Antônio Rueda ainda não se manifestaram sobre o caso.
(Fonte: UOL – Natália Portinari, colunista do UOL)