O Instituto Butantan anunciou, nesta quarta-feira (3/12), um acordo para desenvolver uma vacina contra a raiva para ser usada em humanos. O imunizante apresenta nova tecnologia mais potente e de menor custo e será desenvolvido em parceria com a Replicate Bioscience, empresa norte-americana de tecnologia de saúde.
A replicate criou uma plataforma de RNA autorreplicante (srRNA) para vacinas e terapias voltadas a doenças infecciosas e imunologia. O avanço significa ampliar a ativação imunológica para aumentar a produção de antígenos.
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Nova tecnologia de RNA
O RNA autorreplicante (srRNA) é uma tecnologia de vacina diferente daquela utilizada em larga escala durante a pandemia da Covid-19. Os imunizantes da Pfizer-BioNTech e Moderna usavam a tecnologia de RNA mensageiro (mRNA) convencional.
A tecnonoliga de mRA fornece instruções genéticas para que as células do corpo produzam proteínas semelhantes as do vírus para desencadear uma resposta imunológica. Já a vacina de srRNA vai um passo à frente: além de carregar as instruções para a produção de proteínas, ela também contém genes que permitem que a própria molécula de RNA se replique dentro da célula hospedeira.
Isso faz com que o RNA que se perdia pouco após a imunização continue atuando no organismo, exigindo uma dose muito menor do material genético para alcançar a mesma resposta imunológica forte. A Replicate Bioscience está entre as poucas empresas que dominam o processo delas de forma completa.
Com o acordo, o Butantan será responsável por comercializar a vacina em toda a América Latina
Teste contra raiva em humanos
A raiva é uma doença viral aguda e grave que atinge o sistema nervoso central. Ela é causada pelo vírus do gênero Lyssavirus, nome que faz alusão à Lyssa, deusa grega da loucura. A vacinação anual de cães e gatos é feita para a prevenção da doença, o que consequentemente previne também a raiva humana. No entanto, quando alguém é atacado por um animal selvagem ou desconhecido, deve-se aplicar a vacina para as formas humanas.
No estudo clínico de fase 1 conduzido pela Replicate, o imunizante em testes, RBI-4000, demonstrou ótima capacidade de criar anticorpos contra a raiva e produção duradoura em baixas doses de anticorpos. Os efeitos colaterais observados tiveram intensidade leve ou moderada.
O Butantan financiará o desenvolvimento do RBI-4000 para uso pós-exposição e pré-exposição. O instituto terá direitos comerciais no Brasil e América Latina. A Replicate receberá royalties sobre vendas nessas regiões.
“É uma honra colaborar com o Instituto Butantan, líder global na luta contra doenças infecciosas mortais. Consideramos essa oportunidade empolgante para avançar clinicamente com a vacina antirrábica de srRNA da Replicate em parceria com o Butantan e expandir nossas estruturas científicas, operacionais e de produção que podem ser aplicadas a outras doenças”, diz o CEO da Replicate, Nathaniel Wang.
Cooperação para criar as vacinas
O acordo possibilita ao Butantan incorporar tecnologia avançada à carteira de projetos. A iniciativa fortalece a capacidade do instituto de gerar vacinas de alta complexidade. A colaboração também amplia oportunidades de pesquisa em novas áreas.
O Butantan conduzirá ensaios clínicos de registro da vacina antirrábica. Caso o produto avance com sucesso, o instituto comercializará o imunizante no Brasil e América Latina. A atuação local deve reforçar programas de saúde pública.
A Replicate transferirá o processo de fabricação para unidade de mRNA do Butantan. A empresa manterá responsabilidade por mercados fora da América Latina. O arranjo distribui funções e otimiza produção e logística.
“É uma parceria que pode trazer grandes benefícios para a saúde pública. Tecnologia de ponta, inovação e ciência para o enfrentamento da raiva. Estamos muito entusiasmados com a parceria que reforça o papel estratégico do Instituto Butantan como polo de inovação e ciência”, afirma o diretor do Instituto Butantan, Esper Kallás.
Sintomas da raiva
A raiva é transmitida ao homem pela saliva de animais infectados, principalmente por meio da mordedura, podendo ser transmitida também por arranhões e/ou lambidas desses animais. Os sintomas podem incluir:
- Mal-estar geral;
- Anorexia;
- Náuseas;
- Entorpecimento;
- Inquietude;
- Pequeno aumento de temperatura;
- Dor de cabeça;
- Dor de garganta;
- Irritabilidade;
- Sensação de angústia.
As complicações da doenças incluem febre, delírios, convulsões e espasmos musculares involuntários generalizados. A última pode evoluir para quadro de paralisia, o que leva a alterações cardiorrespiratórias.
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