O índice de pessoas diagnosticadas com sífilis no Brasil vem crescendo ano a ano. O boletim de acompanhamento da doença, divulgado pelo Ministério da Saúde na quinta-feira (16/10), revelou que em 2024 foi alcançado o maior índice da série histórica: 120 casos de sífilis adquirida por 100 mil habitantes.
Os dados mostram que o país registrou mais de 1,5 milhão de infecções adquiridas entre 2010 e junho de 2024, com um pico de casos especialmente no Espírito Santo, que chegou ao índice de 212 diagnósticos para cada 100 mil.
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Apesar disso, com a redução de casos de sífilis congênita e de detecções em gestantes, o número total de casos caiu no Brasil, mas em um ritmo bem mais lento do que era esperado. Em 2024, foram notificados 256 mil casos de sífilis adquirida, 89 mil em gestantes e 24 mil casos de sífilis congênita, com 183 óbitos totais relacionados à doença.
“O desafio é garantir o diagnóstico precoce e o tratamento oportuno, especialmente entre gestantes durante o pré-natal. Os dados mostram que estamos avançando e que o trabalho conjunto está salvando vidas”, afirma Pâmela Cristina Gaspar, coordenadora-geral de Vigilância das Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde.
O que é a sífilis?
A sífilis, causada pela bactéria Treponema pallidum, é uma infecção sexualmente transmissível que continua a desafiar a saúde pública e os serviços de prevenção. Apesar de curável, ela pode causar graves complicações neurológicas, cardiovasculares e congênitas quando não tratada.
“Basta uma única exposição sexual, seja vaginal, anal ou oral, com uma pessoa infectada para a transmissão ocorrer. A sífilis também pode ser transmitida da mãe para o bebê durante a gravidez ou o parto, e em casos raros, por transfusão de sangue ou contato direto com lesões ativas, conhecidas como cancro duro”, alerta o infectologista Alberto Chebabo, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
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Herpes genital – Altamente contagiosa, a herpes genital é causada pelo vírus Herpes simplex (HSV). As pessoas infectadas podem desenvolver pequenas bolinhas vermelhas muito próximas umas das outras na pele das coxas, anus e órgãos genitais. Essas bolinhas contêm um líquido altamente viral de cor amarelada que causa coceira. Além disso, a doença pode se manifestar com febre, dor ao urinar e, no caso de mulheres, corrimento
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Aids –é causada pelo vírus HIV e faz com que o sistema imunológico perca a capacidade de defender o organismo. Ainda não tem tratamento conhecido que seja eficaz.
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Gonorreia e infecção por Clamídia – Na maioria das vezes, as duas doenças estão associadas. A infecção atinge os órgãos genitais, a garganta e os olhos. Quando não é tratada, a gonorreia pode levar à infertilidade. Os principais sintomas em mulheres são dor ao urinar ou no pé da barriga (baixo ventre), corrimento amarelado ou claro fora do período de menstruação, dor ou sangramento durante a relação sexual. Os homens costumam sentir ardor e esquentamento ao urinar, corrimento ou pus e dor nos testículos
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HPV – A infecção por papilomavírus humano (HPV) é uma das mais incidentes e pode ser prevenida com vacina. Ela leva ao aparecimento de lesões na pele dos órgãos genitais de homens e mulheres. A textura dessas alterações pode ser suave ou rugosa, com coloração que varia de acordo com o tom de pele. Elas não causam dor, mas são contagiosas
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Sífilis – A sífilis é uma infecção bacteriana geralmente transmitida pelo contato sexual ou pelo contato com sangue infectado. Os primeiros sintomas surgem no intervalo de três a 12 semanas após o contágio, provocando feridas e manchas vermelhas nas mãos e pés que não sangram e nem causam dor. A sífilis pode provocar cegueira, paralisia e problemas cardíacos
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Infecção pelo HTLV – Pouco conhecido, o HTLV é um retrovírus da mesma família do HIV, possuindo em comum as mesmas formas de transmissão. A maioria das pessoas não apresenta sinais e sintomas durante toda a vida. Dos infectados pelo HTLV, 10% apresentarão alguma doença associada, como doenças neurológicas, oftalmológicas, dermatológicas, urológicas e hematológicas
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Tricomoníase –
A tricomoníase é uma das infecções sexualmente transmissíveis mais comuns, provocada por um parasita. Os principais sintomas são: dor durante a relação sexual, ardência e dificuldade para urinar, coceira nos órgãos sexuais, corrimento abundante, amarelado ou amarelo esverdeado, bolhoso
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Diagnóstico e sintomas
O diagnóstico é simples e pode ser feito com testes rápidos disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS). Eles detectam anticorpos no sangue e permitem o início imediato do tratamento. A testagem é considerada essencial no pré-natal para evitar a forma congênita da doença.
A infecção costuma ser silenciosa. Na fase inicial, aparece uma ferida chamada cancro duro, que desaparece espontaneamente. O desaparecimento da lesão, porém, não representa cura. Sem tratamento, a bactéria permanece ativa e progride para estágios mais graves.
Doença tem cura, mas exige prevenção contínua
O tratamento da sífilis é simples e eficaz, feito com penicilina benzatina, antibiótico de baixo custo. A cura é sempre possível, desde que o paciente siga rigorosamente a dosagem e o esquema de tratamento indicado pelo médico, além dos exames de acompanhamento.
A reinfecção, porém, é possível, já que ter tido a doença não confere imunidade permanente. Com isso, a prevenção continua sendo o principal instrumento de controle. O uso regular de preservativos e a realização de testes de rotina são medidas que evitam o avanço da infecção. O rastreamento também é indicado para parceiros de pessoas diagnosticadas.
Para Chebabo, “a informação e o diagnóstico acessível são as ferramentas mais poderosas para enfrentar a sífilis. É hora de falar abertamente sobre sífilis, combater o estigma e garantir que cada indivíduo tenha acesso ao conhecimento e ao cuidado que merece”.
O especialista aponta que o silêncio em torno da doença impede que pessoas busquem tratamento por medo de julgamento social.
O problema se agrava nas regiões com menor acesso a exames e profissionais especializados. Em áreas rurais e periferias urbanas, o diagnóstico tardio tem contribuído para o aumento da transmissão vertical, quando o bebê é infectado pela mãe.
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