Um novo estudo propõe uma visão instigante sobre o envelhecimento cerebral: durante o processo de envelhecimento “normal”, cérebros masculinos parecem sofrer redução de volume em mais regiões e com maior intensidade do que cérebros femininos. Essa descoberta desafia a ideia de que o simples encolhimento cerebral ao longo do tempo poderia explicar por que mulheres são mais propensas a desenvolver Alzheimer.
Os pesquisadores responsáveis pelo estudo, publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) na última segunda-feira (13/10), acompanharam centenas de pessoas ao longo de diversos anos, submetendo-as a exames de ressonância magnética periódicos para mapear como o volume de várias regiões cerebrais se altera com a idade.
A hipótese inicial era que, se mulheres envelhecessem cerebralmente em ritmo mais acelerado, isso poderia ajudar a explicar sua maior vulnerabilidade à demência. No entanto, os dados contrariaram essa expectativa.
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As medições revelaram que, em média, homens apresentam atrofia cerebral mais extensa durante o envelhecimento saudável — ou seja, perda de volume em múltiplas regiões.
Mesmo assim, mulheres continuam a ser a maioria dos casos de Alzheimer, o que leva os autores a concluir que essa diferença estrutural não é suficiente para explicar a prevalência significativamente maior da doença entre o sexo feminino.
O estudo enfatiza que o Alzheimer envolve processos além da simples atrofia: acúmulo de proteínas como a β-amiloide, disfunções metabólicas, processos inflamatórios e fatores hormonais provavelmente exercem influência decisiva.
No caso das mulheres, a queda dos hormônios — especialmente o estrogênio — após a menopausa, bem como diferenças genéticas e no reparo celular, podem aumentar a vulnerabilidade ao desenvolvimento da doença.
Alzheimer é uma doença degenerativa causada pela morte de células cerebrais e que pode surgir décadas antes do aparecimento dos primeiros sintomas
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Por ser uma doença que tende a se agravar com o passar dos anos, o diagnóstico precoce é fundamental para retardar o avanço. Portanto, ao apresentar quaisquer sintomas da doença é fundamental consultar um especialista
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Apesar de os sintomas serem mais comuns em pessoas com idade superior a 70 anos, não é incomum se manifestarem em jovens por volta dos 30. Aliás, quando essa manifestação “prematura” acontece, a condição passa a ser denominada Alzheimer precoce
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Na fase inicial, uma pessoa com Alzheimer tende a ter alteração na memória e passa a esquecer de coisas simples, tais como: onde guardou as chaves, o que comeu no café da manhã, o nome de alguém ou até a estação do ano
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Desorientação, dificuldade para lembrar do endereço onde mora ou o caminho para casa, dificuldades para tomar simples decisões, como planejar o que vai fazer ou comer, por exemplo, também são sinais da manifestação da doença
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Além disso, perda da vontade de praticar tarefas rotineiras, mudança no comportamento (tornando a pessoa mais nervosa ou agressiva), e repetições são alguns dos sintomas mais comuns
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Segundo pesquisa realizada pela fundação Alzheimer’s Drugs Discovery Foundation (ADDF), a presença de proteínas danificadas (Amilóide e Tau), doenças vasculares, neuroinflamação, falha de energia neural e genética (APOE) podem estar relacionadas com o surgimento da doença
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O tratamento do Alzheimer é feito com uso de medicamentos para diminuir os sintomas da doença, além de ser necessário realizar fisioterapia e estimulação cognitiva. A doença não tem cura e o cuidado deve ser feito até o fim da vida
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Embora os cérebros masculinos mostrem encolhimento mais rápido em estrutura, é possível que as mulheres sofram mudanças mais sutis em conectividade neural, metabolismo ou resposta imunológica, que não são captadas por medidas volumétricas tradicionais.
Por isso, os autores defendem que estudos futuros combinem imagens cerebrais com biomarcadores moleculares, perfis hormonais e dados genéticos para desvendar como envelhecimento e sexo interagem no risco de Alzheimer.
Resumindo, o encolhimento cerebral em si não basta para explicar por que mulheres são mais afetadas pela doença. Em vez de buscar um único fator universal, a ciência avança na direção de um modelo multifatorial.
O estudo propõe levar em conta as nuances biológicas entre homens e mulheres — o que pode abrir caminho para abordagens preventivas e terapêuticas mais personalizadas, respeitando o contexto biológico de cada sexo.
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