Aos 90 anos, o aposentado Donato Laviola desafia as probabilidades médicas e inspira pacientes com câncer de próstata em todo o país. Diagnosticado em 2007 após um exame de rotina revelar níveis elevados de antígeno prostático específico (PSA) — proteína da próstata que pode indicar inflamação ou câncer —, ele enfrentou uma longa jornada de tratamento e, quase duas décadas depois, continua ativo e otimista.
O caso de Donato chama atenção por sua resposta excepcional à terapia hormonal à base de enzalutamida, um medicamento que, em geral, mantém o controle da doença por até quatro anos. No caso dele, o controle durou sete anos, bem acima da média — um resultado que chegou a ser estudado por pesquisadores norte-americanos pela sua raridade.
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Tratamento prolongado e respostas positivas
Segundo o oncologista Márcio Almeida, membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), casos como o de Donato são verdadeiramente inspiradores e também pouco comuns.
“Embora a média de respostas às terapias hormonais de nova geração, como a enzalutamida, seja de dois a quatros anos, alguns pacientes apresentam respostas excepcionalmente duradouras, mantendo o PSA controlado por períodos muito acima do esperado “, explica o especialista.
O médico destaca ainda que a biologia do tumor, o perfil genético e o sistema imunológico podem ser determinantes para o sucesso do tratamento. O tumor pode ter maior sensibilidade ao bloqueio hormonal, aliado à boa adesão ao procedimento e condições clínicas favoráveis.
“No caso de Donato, o quadro sugere uma interação muito eficiente entre o medicamento e o perfil molecular do tumor”, completa.
Genética e estilo de vida
Além dos fatores biológicos, o estilo de vida saudável pode ter contribuído para a longevidade do tratamento. Fatores genéticos e imunológicos também são importantes.
Segundo Almeida, alimentação equilibrada, manutenção do peso, controle de doenças crônicas e rotina ativa também influenciam na resposta e na tolerância ao tratamento. Donato, que sempre manteve hábitos simples e disciplinados, resume sua trajetória com leveza:
“Ter medo do exame de toque é uma besteira. Se for encontrado algum tipo de câncer, não precisa ter medo. Faça os exames e confie no tratamento. No meu caso, o médico me deu cinco anos de vida e cá estou, 18 anos depois, ainda em tratamento, mas sem sequelas nem impedimentos”, conta.
De acordo com o oncologista, a última década trouxe avanços significativos no tratamento do câncer de próstata, com terapias cada vez mais individualizadas que permitem controlar a doença por longos períodos.
“Hoje contamos com bloqueadores hormonais de nova geração, terapias-alvo, radiofármacos como o lutécio-177-PSMA e protocolos personalizados. São opções que permitem ao paciente viver mais e com qualidade de vida” , explica.
Próximo tratamento
Após anos de estabilidade, o PSA de Donato voltou a subir este ano, revelando metástases ósseas em três pontos da coluna. A nova fase do tratamento será conduzida com radioterapia, com possibilidade de introdução de novos medicamentos conforme a resposta clínica.
“A idade cronológica, mesmo sendo 90 anos, não deve ser o único critério. O importante é avaliar o estado funcional e preservar a qualidade de vida. Donato mostra que, com acompanhamento próximo, é possível manter independência e bem-estar mesmo com câncer”, reforça Almeida.
Casos como o de Donato inspiram não só outros pacientes, mas também a ciência. Essas histórias ajudam a identificar mecanismos de sensibilidade tumoral e orientar novas pesquisas em medicina personalizada. Donato resume a mensagem do Novembro Azul com a simplicidade de quem venceu o medo.
“Recomendo aos homens, tanto jovens quanto mais velhos, fazer o acompanhamento médico regular. A prevenção é o que me trouxe até aqui”, afirma.
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