Um dia após a operação policial que deixou mais de 100 mortos em comunidades do Rio de Janeiro, deputados da base do governo federal anunciaram que vão ao estado nesta quinta-feira, 30, para acompanhar a situação e cobrar esclarecimentos. Integrantes da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, os parlamentares pretendem se reunir com familiares das vítimas, organizações civis e autoridades locais. O grupo critica a condução da política de segurança do governador Cláudio Castro (PL) e defende a criação de uma investigação independente sobre as mortes.
A deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ) classificou a ação como um “massacre promovido pelo governo estadual”. Para ela, o episódio evidencia “a falência do modelo de segurança pública no Rio”.
“Vivemos a dor do que foi o Carandiru, com 111 mortos, e hoje são 134 vidas perdidas, podendo chegar a 200. Há décadas enxugamos sangue, sem resultados, e o governador Cláudio Castro é responsável direto por esse cenário”, afirmou. Talíria defendeu uma força-tarefa nacional e maior atuação da União na área de segurança pública.
A deputada Benedita da Silva (PT-RJ) também criticou a operação, que, segundo ela, repete um padrão de violência nas comunidades mais pobres.
“Não há segurança para quem mora na favela. Essas ações sempre acontecem perto das eleições. Eles não foram lá para prender ninguém, foram para matar”, disse.
Ex-governadora do estado, Benedita defendeu o uso de inteligência e planejamento. “Prendi líderes do tráfico sem dar um tiro. Por que agora, com tantos recursos, o Estado não consegue fazer o mesmo?”, questionou.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, deputado Reimont (PT-RJ), destacou a diferença entre as operações da Polícia Federal e as da Polícia Militar do Rio. Segundo ele, ações federais recentes resultaram em grandes apreensões e prisões sem mortes.
“Enquanto isso, no Alemão e na Penha, temos quase 150 mortos e relatos de execuções na mata. Não se combate o crime com mais violência de Estado”, afirmou.
A comitiva pretende visitar o Complexo do Alemão, o Instituto Médico-Legal (IML), a Defensoria Pública e a Procuradoria-Geral de Justiça do estado.
O líder do governo na Câmara, Lindbergh Farias (PT-RJ), disse que a resposta federal será “no sentido oposto” ao da política de Cláudio Castro, com foco em inteligência e investigação. Segundo o deputado, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, já estão a caminho do Rio.
“Vamos montar uma força-tarefa de inteligência, como na Operação Carbono Oculto, que desbaratou o esquema financeiro do PCC sem um disparo”, afirmou.
Lindbergh também criticou a resistência do governador à PEC da Segurança Pública, que propõe maior integração entre as forças federais e estaduais. “Castro teme investigações autônomas que atinjam conexões políticas e policiais envolvidas com o crime organizado”, disse.
O governo do Rio ainda não se manifestou oficialmente sobre as críticas, mas, em nota divulgada na noite de terça-feira, o Palácio Guanabara afirmou que a operação foi “legítima e necessária” e que “a polícia agiu dentro da legalidade para desarticular quadrilhas armadas que aterrorizam a população”.
Segundo o governo estadual, a ação teve como alvo grupos ligados ao tráfico e ao roubo de cargas, e as circunstâncias das mortes “serão apuradas pela Corregedoria da Polícia Civil”.