O acúmulo de gordura no fígado, chamado de esteatose hepática, começa quando os hepatócitos — as células do órgão — passam a reter triglicérideos em volume maior do que o considerado saudável. Segundo o Ministério da Saúde, isso ocorre quando cerca de 5% ou mais dessas células acumulam gordura.
Embora muita gente associe o problema exclusivamente à obesidade, especialistas explicam que ele pode surgir até em pessoas com peso normal, dependendo da forma como o organismo reage ao excesso de gordura e açúcar circulando no sangue.
A endocrinologista Paula Pires destaca que esse acúmulo é resultado direto de desequilíbrios metabólicos. “A gordura no fígado aparece quando há mais oferta de energia do que o corpo consegue usar ou estocar de forma adequada”, afirma.
Pires explica que a gordura pode chegar ao fígado pela alimentação ou ser fabricada pelo próprio órgão quando os carboidratos simples são consumidos em excesso.
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“A resistência à insulina é um dos principais motores desse processo, porque desorganiza o caminho natural de armazenamento de triglicérideos”, completa.
4 imagens Fechar modal. 1 de 4 A esteatose hepática é popularmente conhecida como gordura no fígado
Mohammed Haneefa Nizamudeen/Getty Images2 de 4
A condição de gordura no fígado acomete 30% da população mundial
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Alterações na função hepática podem provocar distúrbios do sono, como insônia, sonolência diurna e ciclos de descanso irregulares
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No início, as manifestações costumam ser inespecíficas, como cansaço, fraqueza, perda de apetite, náuseas, sensação de inchaço abdominal ou desconforto do lado direito do abdome
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O endocrinologista Marcio Mancini, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, reforça que o problema começa fora do fígado. Cada pessoa tem um limite natural de quanto consegue estocar gordura no tecido subcutâneo, e ele é determinado geneticamente.
“Quando o adipócito chega ao máximo da sua capacidade, o corpo passa a mandar gordura para locais inadequados, como o fígado”, explica. Esse depósito, fora do lugar habitual, é chamado de gordura ectópica e ajuda a entender por que pessoas aparentemente magras podem apresentar esteatose.
Gordura no fígado e resistência à insulina
Outro mecanismo que favorece o acúmulo é a resistência à insulina. Em condições normais, a insulina estimula enzimas do tecido adiposo que capturam triglicérideos da corrente sanguínea e os direcionam para dentro dos adipócitos. Quando esse processo falha, grande parte do triglicérideos é desviada para o fígado.
Mancini lembra que isso agrava a sobrecarga do órgão: “Nesse cenário, o fígado tenta administrar o excesso produzindo partículas de lipoproteína de muito baixa densidade (VLDL), mas isso também favorece o depósito de gordura dentro das células hepáticas”.
Além disso, o órgão fabrica sua própria gordura por meio da lipogênese, que é intensificada quando há muito consumo de frutose presente em bebidas adoçadas.
A alimentação tem papel direto nesse desequilíbrio. O consumo frequente de ultraprocessados, açúcar, álcool, gordura saturada e bebidas adoçadas aumenta a produção e o transporte de triglicérides, enquanto frutas, legumes, verduras, fibras e laticínios estão associados a menor risco de acúmulo.
Mesmo sem sintomas, o aumento da gordura abdominal costuma ser um dos primeiros sinais de que há gordura visceral em excesso, que inclui o fígado. Exames como ultrassom, transaminases, FIB-4 e elastografia ajudam a indicar o grau de comprometimento, e a biópsia é reservada para casos específicos.
A boa notícia é que a esteatose tem grande potencial de reversão nas fases iniciais. Perder aproximadamente 7% do peso corporal, ajustar a alimentação, controlar a glicose e praticar atividade física regularmente são medidas comprovadas para reduzir a gordura hepática.
Quanto mais cedo o processo é identificado, maiores são as chances de impedir que o fígado continue acumulando gordura e evolua para formas mais graves da doença.
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