Delegado explica diferenças em agressões cometidas no Guará e em Natal

O delegado responsável pela investigação do brutal espancamento de uma mulher de 34 anos pelo marido, Cléber Lúcio Borges, 55, no elevador de um prédio no Guará, reforçou que o caso segue sendo investigado como lesão corporal e porte ilegal de arma.

Apesar de ter dito na última sexta-feira (9/8) que o caso poderia ter evoluído para um feminicídio, o delegado-chefe, Marcos Loures da 4ª Delegacia de Polícia (Guará), explicou porque o crime seguirá sendo investigado como lesão corporal qualificada.

Para explicar a razão da escolha da natureza criminal, Loures citou o caso emblemático ocorrido em Natal-RN, quando um homem deu 61 socos no rosto da vítima, também dentro de um elevador. Segundo ele, vários elementos demonstram que o autor dos socos não queria matar a sua esposa.

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“Apesar das semelhanças com o caso ocorrido em Natal, e naquele caso eu não teria dúvida alguma em indiciar por tentativa de feminicídio, neste caso há várias diferenças. Apesar da clara brutalidade da ação, a quantidade de golpes é menor, havendo interrupções entre as sequências de golpes em que ele caminha. Ele não prossegue com as agressões após a vítima estar caída, ele tinha arma em casa, muito próximo do elevador, de modo que se ele quisesse matar, ele teria pego a arma e atirado”, explicou o delegado.

De acordo com Loures, o indiciamento por feminicídio poderia não levado adiante na esfera judiciária. “O meu trabalho perderia totalmente a credibilidade perante o Ministério Público e o Judiciário, e muito provavelmente não teria conseguido o mandado de prisão”, reforçou.

O delegado disse ainda que “ não adianta forçar a mão” e fazer além do que é o justo”. Segundo ele, “o papel da polícia não é defender o suspeito, mas tampouco o é dizer que ele fez o que não fez”, destacou.

Marcos Loures ressaltou também que o indiciamento da Polícia Civil é provisório e o Ministério Público pode denunciar por outro crime, se assim achar necessário.” Se o MP achar que é outro crime, ele denuncia em outro crime porque o que o juiz vai julgar é a denúncia oferecida pelo MP, e não o indiciamento do delegado”, disse.

O chefe da 4ª DP relembrou que o empresário do ramo de móveis pegar até 8 anos de reclusão pelos crimes, mas as investigações continuam e ele poderá ser indiciado também por violência psicológica.

Entenda o caso:

Mãe registrou queixa a delegado

Em entrevista ao Metrópoles, a mãe disse considerar que o agressor destruiu a vida da filha.

“É muito triste para uma mãe, que cria uma filha com tanto carinho desde pequenininha, que faz o seu melhor, ver ela crescer e parar nesse estado, dependente emocionalmente de uma pessoa que não sei descrever o quanto fez mal para ela a vida toda. Destruiu a vida da minha filha”, desabafou.

A vítima ficou profundamente abalada, tanto física quanto psicologicamente. Por isso, foi encaminhada para um centro de ajuda especializada.

“Minha filha hoje está em uma clínica de recuperação por conta de tantas coisas que aconteceram na vida dela. Estou desolada. Não tenho palavras para descrever a dor que estou sentido”, afirmou ao Metrópoles.

A mãe denunciou o agressor e salvou a vida da filha. Mesmo assim, ela sofre profundamente. “Sinto a dor de ver que fui incapaz de fazer alguma coisa para a minha filha. Apesar de o tempo toda estar alertando ela. O tempo todo estar falando, cuidando. Mas fui incapaz de proteger a minha filha. Quase perdi minha filha.”

Veja imagens dos hematomas: 

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Hematomas no braço

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Hematomas em outras partes do corpo

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Outra lesão na perna

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Lesão no pé

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Machucado na perna

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Cleber foi flagrado agredindo a companheira

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Homem surpreendeu a vítima ao sair de elevador

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Cleber Lucio Borges, 55 anos

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Divulgação

De acordo com o boletim de ocorrência, ao qual o Metrópoles teve acesso, a mulher relatou que já tinha sido agredida outras vezes pelo marido.

Inclusive, a mãe da vítima desconfiou de que havia algo errado após conversar com a filha, um dia depois da agressão, e foi até a residência do casal. Quando chegou, soube que Cleber havia levado a companheira para um hospital na Asa Sul.

Agressão

No dia em que a mulher foi atacada, câmeras de segurança mostram Cleber descendo de elevador. Quando as portas se abrem, o empresário surpreende a companheira com um soco. A vítima aguardava o elevador chegar para subir ao apartamento do casal.

Na sequência, Cleber volta para dentro do elevador, e a mulher entra junto. Em seguida, ele começa a dar socos e cotoveladas no rosto da vítima até ela cair.

Assista:

Quando a mulher se levanta, ela tenta atingir o companheiro, e ele continua a agredi-la com cotoveladas. Por um breve momento, as agressões cessam, e o casal aparece discutindo nas imagens.

Logo depois, Cleber arranca a bolsa da mão da vítima e retira um objeto de dentro.

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Prisão e apreensão de armas

No decorrer do cumprimento das ordens judiciais, o investigado foi localizado, e, na residência, os policiais civis encontraram duas armas de fogo e um total de 518 munições de calibres diversos.

As armas apreendidas incluem uma pistola Beretta calibre .22 e uma arma antiga de calibre não identificado.

O autuado foi conduzido à 4ª DP, onde acabou preso em flagrante e teve fiança arbitrada em R$ 25,9 mil. Apesar do pagamento, permanece recolhido preventivamente, por força do mandado de prisão expedido nos autos de violência doméstica.

Por meio de nota, a defesa de Cleber informou que as manifestações necessárias ocorrerão nos autos do processo.

“O caso está em fase de apuração, e as condutas mencionadas em reportagem ainda não foram objeto de denúncia. Todas as medidas de defesa cabíveis estão sendo tomadas. O investigado tem total interesse na elucidação dos fatos e reitera sua idoneidade”, pontuou a defesa.

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