Estima-se que, pelo menos, 30% das internações por queimaduras no Brasil seja de crianças. Segundo pesquisa realizada pela Aldeias Infantis SOS, somente em 2021, 19% dos 110 mil casos de internação de crianças e adolescentes no país foram causadas por acidentes com queimaduras, ficando atrás, somente, das quedas (44%). Com números tão expressivos, um profissional torna-se imprescindível no atendimento a essas vítimas de queimaduras: o pediatra.
“A queimadura em criança é, potencialmente, mais grave do que no adulto, pois a superfície corpórea comparada com a de um adulto é maior, sendo um dos agravos”, destaca a pediatra Anabela Sampaio, que há 25 anos atende crianças vítimas de queimaduras no Centro de Tratamento de Queimados do Hospital Geral do Estado, em Salvador (BA).
Ela elenca os vários fatores que tornam a queimadura em crianças um pouco mais grave que em adultos: “A pele tem uma textura mais delicada. Perdendo a pele, há perda do controle de temperatura, que funciona, também, como um dos agravos- hipotermia. A instabilidade hemodinâmica também, pelo mesmo motivo: perda da barreira protetora e a maior facilidade em infecção”, destaca.
Conforme complementa o pediatra Rodrigo Feijó, que há 22 anos trabalha na unidade de queimados do Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis, em enonatos e lactentes, os riscos são ainda maiores pela imaturidade do sistema imunológico. “Além disso, eles têm menos capacidade de reservas energéticas e de volemia”, completa.
Os profissionais ainda precisam lidar com a família das pequenas vítimas. “O sentimento de culpa dos responsáveis está sempre presente”, ressalta Feijó.
Por esses e outros motivos, a prevenção é tão importante. “Os pais deveriam receber orientações em comissões de bairro, escolas, chamadas de mídia, associações. Há vulnerabilidade da criança menor, por falta de orientação e conhecimento deste trauma grave e perfeitamente evitável”, observa Anabela.
Conforme lembra Rodrigo Feijó, a cozinha é um dos locais de maior risco, assim como objetos perigosos como chaleiras elétricas e alisadores de cabelo, bem como alimentos e água quente.
Dia do pediatra – Em todo 27 de julho comemora-se o Dia do Pediatra. A data foi escolhida por ter sido o dia da fundação da Sociedade Brasileira de Pediatria, em 1910.
Ainda não há especialização para pediatras no atendimento a vítimas de queimaduras, mas alguns CTQs já contam com residência voltada ao tratamento de queimaduras, porém visando a área da cirurgia plástica traumatológica.
Segundo Rodrigo Feijó, no hospital onde atua, historicamente, é a cirurgia pediátrica que atende as crianças queimadas, então faz parte da formação do residente o tratamento completo da criança queimada.
