A amamentação é um dos momentos mais esperados por muitas mães após o parto, mas também um dos que mais gera inseguranças. Entre os receios mais comuns está a dúvida: será que estou produzindo leite suficiente para o meu bebê?
Segundo a mastologista Fernanda Barbosa, do Hospital Sírio-Libanês, a produção do leite é resultado direto da ação hormonal. “Durante a gestação, o estrogênio e a progesterona preparam as mamas. Após o parto, a prolactina é responsável pela produção e a ocitocina pela ejeção do leite. O estímulo da sucção frequente do bebê é o principal fator que mantém e aumenta a produção”, explica.
Leia também
-
Vídeo: bebê recém-nascido sufoca com leite materno e é salvo por PM
-
Personalizado e com sabor umami: 7 curiosidades sobre o leite materno
-
Como estresse, ansiedade e depressão podem interferir no leite materno
-
Americana lucra R$ 20 mil por mês vendendo leite materno para atletas
O que pode atrapalhar a produção de leite
Ainda que o corpo esteja preparado para amamentar, alguns fatores podem dificultar esse processo. O estresse, a privação de sono e até mesmo certos medicamentos atrapalham a liberação hormonal necessária para a descida do leite. “Eles não cortam a produção, mas podem dificultar a saída”, alerta Fernanda.
Além disso, a pega incorreta do bebê na mama é uma das causas mais comuns de problemas. “Se o bebê não consegue esvaziar a mama, o leite acumula, gera dor, fissuras e, com o tempo, diminui a produção, porque a mama não recebe estímulo adequado”, completa.
Outro mito frequente é a ideia de que mães que passam por cesárea produzem menos leite. Na prática, a diferença está apenas no tempo de descida. “No parto normal, o leite tende a descer mais rápido devido à liberação hormonal intensa, mas, a médio prazo, tanto mães de cesárea quanto de parto normal conseguem amamentar plenamente”, explica a mastologista.
O papel da alimentação na amamentação
A nutricionista materno-infantil Camila Machado Rissotto, de São Paulo, reforça que a produção de leite depende, principalmente, do estímulo da mama. No entanto, a alimentação da mãe é determinante para garantir energia e qualidade nutricional.
“A lactação aumenta o gasto calórico em cerca de 500 kcal por dia. Por isso, a dieta deve ser rica em carboidratos saudáveis (arroz, aveia, batata, mandioca), proteínas de qualidade (carnes, ovos, leguminosas, tofu), gorduras boas (azeite, castanhas, sementes e peixes ricos em ômega-3) e micronutrientes como cálcio, ferro, iodo, zinco e vitaminas do complexo B”, explica.
Embora nenhum alimento isolado seja capaz de aumentar significativamente a produção, alguns estudos sugerem efeitos positivos do uso de ervas como feno-grego e funcho (erva-doce). Pesquisas indicam que eles podem ajudar no volume de leite, mas ainda faltam evidências robustas. Já alimentos como aveia e gergelim oferecem nutrientes valiosos para a mãe, ajudando indiretamente no processo.
As especialistas reforçam que não existem soluções mágicas, mas sim medidas práticas e comprovadas que ajudam o corpo da mãe a responder melhor.
Como aumentar a produção de leite materno
- Sucção frequente do bebê é o principal estímulo. Quanto mais o bebê mama, mais leite é produzido.
- Pega correta: a boca do bebê deve abocanhar não só o mamilo, mas parte da aréola. Isso garante esvaziamento eficaz da mama.
- Quando o bebê não consegue mamar bem, a retirada do leite ajuda a manter o estímulo da mama.
- O cansaço excessivo atrapalha a liberação da ocitocina, essencial para a descida do leite.
- A mãe precisa de energia, proteínas e gorduras boas para sustentar o processo. Uma dieta restritiva pode prejudicar.
- Hidratação adequada: embora beber água em excesso não aumente o leite, a desidratação pode reduzi-lo. Ter uma garrafinha por perto durante as mamadas é uma boa prática.
- Vitaminas, minerais e ômega-3 podem ser indicados individualmente, sempre com orientação médica ou nutricional.
Mitos e verdades sobre a produção
Um dos maiores mitos é o chamado “leite fraco”. Fernanda explica: “Esse conceito não existe. Todo leite materno é adequado, com nutrientes e anticorpos que o bebê precisa. O que pode acontecer é produção insuficiente, nunca baixa qualidade”.
Outro equívoco é acreditar que alimentos como hortelã, salsa ou repolho “secam” o leite. Segundo a nutricionista Camila Rissotto, não há evidências científicas de que isso aconteça. O que realmente compromete a produção são intervalos longos entre mamadas, introdução precoce de fórmulas sem indicação, estresse e ingestão calórica muito baixa.
Caso o bebê apresente ganho de peso insuficiente, menos de seis fraldas trocadas por dia após a primeira semana ou esteja constantemente insatisfeito, é fundamental procurar orientação médica.
“Com ajustes de pega, frequência e apoio profissional, a maioria dos casos de baixa produção pode ser revertida”, destaca Fernanda.
A amamentação deve ser encarada como um processo que envolve não apenas a fisiologia, mas também o bem-estar da mãe. Quando cuidamos da saúde física, mental e nutricional da mulher, estamos, ao mesmo tempo, cuidando da qualidade da amamentação.
Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto!