Estudo de Harvard relaciona perda de lítio no cérebro ao Alzheimer

A perda do lítio no cérebro pode ser um dos primeiros sinais da doença de Alzheimer. É o que mostra um estudo conduzido por cientistas da Escola Médica de Harvard publicado na revista Nature nessa quarta-feira (6/8).

O lítio é um mineral presente naturalmente no organismo em pequenas quantidades e tem papel importante no equilíbrio das funções cerebrais. Agora, cientistas mostram que ele também pode ser um aliado no combate à demência.

O que é o Alzheimer?

Ao longo de dez anos, a equipe investigou tecidos cerebrais humanos, amostras de sangue e fez testes com camundongos para entender melhor a origem da doença. Os resultados indicam que a redução do lítio pode estar relacionada ao avanço do Alzheimer.

“É uma nova maneira de olhar para a doença. A deficiência de lítio parece ser uma peça importante que estava faltando na explicação do que causa o Alzheimer”, diz o geneticista Bruce Yankner, que coordenou a pesquisa, em comunicado.

Os cientistas observaram que o lítio ajuda a proteger as células do cérebro. Quando seus níveis caem, essa proteção diminui, e o tecido cerebral fica mais exposto aos danos provocados pela doença.

Como o lítio está relacionado a doença

O estudo mostra que o mineral começa a desaparecer nas fases iniciais do Alzheimer. Isso acontece porque ele se liga às placas de beta-amiloide, uma das marcas registradas da doença. Ao se prender a essas placas, o mineral deixa de circular e perde a capacidade de proteger o cérebro.

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Em camundongos, a queda nos níveis de lítio acelerou o declínio da memória. No entanto, quando os animais foram tratados com um novo tipo de composto, chamado orotato de lítio, a memória foi restaurada. Esse composto não se liga às placas e foi eficaz mesmo em doses muito pequenas, sem causar efeitos tóxicos.

“Conseguimos reverter os danos em modelos animais sem os efeitos colaterais dos tratamentos com lítio em doses altas”, explicou Yankner. Hoje, o lítio é usado para tratar transtorno bipolar, mas em concentrações muito maiores e com maior risco de toxicidade, especialmente entre idosos.

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Alzheimer é uma doença degenerativa causada pela morte de células cerebrais e que pode surgir décadas antes do aparecimento dos primeiros sintomas

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Por ser uma doença que tende a se agravar com o passar dos anos, o diagnóstico precoce é fundamental para retardar o avanço. Portanto, ao apresentar quaisquer sintomas da doença é fundamental consultar um especialista

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Apesar de os sintomas serem mais comuns em pessoas com idade superior a 70 anos, não é incomum se manifestarem em jovens por volta dos 30. Aliás, quando essa manifestação “prematura” acontece, a condição passa a ser denominada Alzheimer precoce

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Na fase inicial, uma pessoa com Alzheimer tende a ter alteração na memória e passa a esquecer de coisas simples, tais como: onde guardou as chaves, o que comeu no café da manhã, o nome de alguém ou até a estação do ano

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Desorientação, dificuldade para lembrar do endereço onde mora ou o caminho para casa, dificuldades para tomar simples decisões, como planejar o que vai fazer ou comer, por exemplo, também são sinais da manifestação da doença

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Além disso, perda da vontade de praticar tarefas rotineiras, mudança no comportamento (tornando a pessoa mais nervosa ou agressiva), e repetições são alguns dos sintomas mais comuns

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Segundo pesquisa realizada pela fundação Alzheimer’s Drugs Discovery Foundation (ADDF), a presença de proteínas danificadas (Amilóide e Tau), doenças vasculares, neuroinflamação, falha de energia neural e genética (APOE) podem estar relacionadas com o surgimento da doença

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O tratamento do Alzheimer é feito com uso de medicamentos para diminuir os sintomas da doença, além de ser necessário realizar fisioterapia e estimulação cognitiva. A doença não tem cura e o cuidado deve ser feito até o fim da vida

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Possível opção de tratamento

A descoberta levanta a possibilidade de desenvolver estratégias de prevenção e diagnóstico precoce. Monitorar os níveis de lítio no organismo pode ajudar a identificar a doença antes dos sintomas. Além disso, compostos que não se ligam às placas podem ser testados como forma de proteção do cérebro.

Segundo os autores, entender o papel do lítio ajuda a explicar por que algumas pessoas desenvolvem Alzheimer mesmo sem fatores genéticos fortes e por que outras, com o cérebro já afetado pelas placas, seguem cognitivamente saudáveis.

“Nosso trabalho sugere que o lítio pode estar no centro de tudo isso”, disse Yankner. Ainda é cedo para falar em tratamento humano, mas os resultados animam os cientistas. “É preciso ter cautela, claro, mas estamos diante de um caminho promissor”, afirma.

As próximas etapas envolvem testar o orotato de lítio em ensaios clínicos com pessoas. Se os resultados se repetirem, o composto pode se tornar uma nova opção no tratamento da doença.

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