EUA e China firmam acordo provisório para trégua comercial, mas impasse estrutural persiste

Secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, e vice-premiê da China, He Lifeng, em Londres United States Treasury/Handout

Secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, e vice-premiê da China, He Lifeng, em Londres United States Treasury/Handout

Após negociações intensas, autoridades dos Estados Unidos e da China anunciaram a conclusão de um acordo preliminar que prevê a retomada da trégua comercial e a remoção parcial de restrições à exportação chinesa de terras raras. O entendimento, firmado em Londres, reacende a esperança de estabilização das relações comerciais entre as duas maiores economias do mundo, mas ainda deixa em aberto as questões mais sensíveis que alimentam o conflito bilateral há anos.

Segundo o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, o novo acordo estabelece uma “estrutura” para implementar o consenso alcançado em Genebra no mês passado, que buscava reduzir tarifas bilaterais de retaliação. O pacto anterior, no entanto, havia naufragado diante da manutenção de barreiras chinesas à exportação de minerais estratégicos — o que levou Washington a adotar novos controles sobre o envio de produtos de alta tecnologia à China, incluindo softwares de design de semicondutores e aeronaves.

“A estrutura pactuada em Londres prevê a suspensão de restrições impostas por ambos os lados de forma equilibrada”, afirmou Lutnick, em declaração à imprensa. Ele evitou dar detalhes sobre os termos do novo acordo, que será submetido à aprovação dos presidentes dos dois países. “Se for aprovado, nós implementaremos a estrutura”, garantiu.

Em pronunciamento separado, o vice-ministro do Comércio da China, Li Chenggang, confirmou o acerto em princípio e reiterou que o esboço será levado aos líderes de Pequim e Washington.

Efeitos imediatos e tensões latentes
A reação imediata nos mercados foi de alívio. Empresas chinesas listadas na bolsa de Shenzhen, como JL MAG Rare-Earth, Innuovo Technology e Zhong Ke San Huan, anunciaram já ter recebido novas licenças de exportação. A liberação sinaliza um afrouxamento das barreiras adotadas pela China desde abril, que haviam abalado cadeias globais de produção, especialmente nos setores de energia limpa e tecnologia.

Com domínio quase absoluto sobre o mercado global de ímãs de terras raras — insumos cruciais para veículos elétricos e equipamentos eletrônicos —, a China havia suspendido as exportações de uma ampla gama de minerais estratégicos, em resposta às restrições impostas pelos EUA.

A escalada levou os norte-americanos a revogar licenças de exportação e a restringir o envio de produtos de alta tecnologia para o mercado chinês em maio, intensificando ainda mais as tensões.

Pressão por acordo definitivo
Apesar do avanço, o novo entendimento é visto como uma solução provisória. O cerne da disputa — as tarifas unilaterais impostas durante o governo Trump e as críticas ao modelo econômico chinês, baseado em subsídios estatais e forte intervenção governamental — permanece intocado.

Sem um acordo definitivo, as tarifas de retaliação voltam a subir a partir de 10 de agosto: de cerca de 30% para 145% nos EUA, e de 10% para 125% na China. A ameaça de escalada tarifária pressiona negociadores a avançar rumo a um pacto mais abrangente nas próximas semanas.

O governo dos EUA avalia que as políticas tarifárias do ex-presidente Donald Trump impactaram fortemente os mercados globais, gerando gargalos logísticos, confusão nos portos e prejuízos bilionários para empresas americanas e estrangeiras.

Embora a nova estrutura represente um passo importante para conter o agravamento da guerra comercial, analistas alertam que a desconfiança mútua, somada às divergências estruturais entre os modelos econômicos, torna incerto qualquer caminho rumo à estabilidade duradoura.

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