Os laços de sangue que deveriam unir uma família acabaram empurrando seus próprios membros para o centro de uma violenta tragédia. A morte do torcedor do Flamengo Fellype Vinhas de Jesus, 29 anos, durante uma confraternização após a final da Libertadores, no último sábado (29/11), em Santa Maria, revelou uma teia de relações familiares que agora se mostra decisiva para entender a motivação do crime.
Logo nas primeiras horas de investigação, os policiais descobriram que os dois principais suspeitos do ataque não eram desconhecidos da vítima. Ao contrário, estavam ligados a Fellype por meio de sua companheira. O autor dos disparos, Benedito de Sousa, é primo da mulher de Fellype. Já o motorista do carro usado na fuga, Cristiano da Conceição, é irmão dela.
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À Polícia Militar de Goiás (PMGO), Benedito confessou ter matado Fellype por vingança. Segundo ele, a vítima teria mantido sua prima, atual companheira de Fellype, em cárcere privado e agredido sua tia. A partir dessa suposta motivação, o primo decidiu agir por conta própria. Em seu depoimento, disse ter efetuado nove disparos contra o torcedor.
Fuga, perseguição e prisão
Após o crime, ocorrido ainda na noite de sábado, Benedito e Cristiano fugiram em um Fiat Cronos preto, veículo que seria de Cristiano e usado como carro de apoio para a execução e a fuga. A ação de captura envolveu um esforço conjunto das Polícias Militar do DF, de Goiás e da Polícia Civil do DF.
As equipes rastrearam os suspeitos até Caldas Novas (GO). O Cronos foi localizado no bairro Olegário Pinto. Cristiano foi encontrado primeiro e contou aos policiais que Benedito estava escondido em um hotel na região da Nova Vila.
Durante a tentativa de abordagem, Benedito tentou fugir — e acabou deixando cair uma pistola 9mm, três carregadores e munições. Ele foi capturado dentro do banheiro de um quarto de hotel. Segundo a polícia, confessou ali mesmo ser o autor dos disparos.
Agora, investigadores juntam as peças do quebra-cabeça para compreender se a motivação foi apenas vingança familiar ou se há outras pessoas envolvidas no planejamento e execução do ataque.
O quiosque Churrasquinho Tá na Área estava lotado. Torcedores rubro-negros comemoravam a vitória do Flamengo na Libertadores. Música alta, camisas vermelhas e pretas pelas mesas, churrasco e bebidas marcavam a festa. Tudo mudou em segundos.
Testemunhas relatam que o som dos disparos provocou correria, gritos e pânico. Três flamenguistas foram baleados. Fellype foi socorrido por amigos e levado ao Hospital Regional do Gama, mas não resistiu.
Outras duas vítimas foram encaminhadas ao Hospital Regional de Santa Maria e sobreviveram.
Quando a PMDF chegou, encontrou o local tomado pelo caos: cadeiras caídas, pessoas chorando e um clima de incredulidade entre os torcedores. O proprietário do quiosque confirmou que os feridos já haviam sido levados por frequentadores.
Investigação em andamento
A 33ª Delegacia de Polícia (Santa Maria) assumiu o caso, registrado inicialmente como tentativa de homicídio múltipla, com um dos crimes consumado pela morte de Fellype.
As próximas etapas da investigação vão buscar confirmar:
- se as supostas agressões relatadas pelo atirador realmente ocorreram;
- se o crime foi planejado com antecedência;
- se há outros familiares ou pessoas envolvidas;
- e se a motivação se limita à vingança ou envolve disputas anteriores.
Enquanto isso, familiares e amigos de Fellype lamentam a perda de um jovem pai que saiu de casa para comemorar o título do time do coração e não voltou. A polícia segue trabalhando para esclarecer todos os detalhes dessa trágica noite em Santa Maria.