A multinacional energética Pan American Energy inaugurou, no último dia 03 de julho, o Complexo Eólico Novo Horizonte, com 10 usinas que atingiram 52 comunidades em 06 municípios na Chapada Diamantina.
A cerimônia de abertura contou com a presença do Ministro de Minas de Energia, Alexandre Silveira, e do Governador Jerônimo Rodrigues, entre outras autoridades que celebraram os investimentos de mais de R$ 3 bilhões de reais da obra gigantesca feita em tempo recorde: apenas 20 meses.
Mas essa velocidade toda deixou um rastro de poeira e morte pelo caminho. Por causa das más condições da estrada de acesso às fazendas de vento, os moradores de Lagoa dos Bastos, Capão, Cruzes e Malhada, do município de Piatã, não têm motivo para festa. Eles denunciam uma série de transtornos, que vão muito além do pó que cobre suas casas.
Só no ano passado, os moradores locais realizaram 10 protestos paralisando as obras do empreendimento. Entre as reclamações estão o rastro de poeira da estrada aberta pela empresa, rachaduras das casas, inundações de lama que invandem as casas na temporada de chuvas, aumento das doenças respiratórias, e a inviabilidade da economia local, como a agricultura familiar e a criação de gado.
Sobre as más condições da pista, a empresa alega aos moradores que ela é especializada em produzir energia, não em construir estrada, e deixou o problema nas mãos da prefeitura. “A gente ficou no meio do caminho e virou prisioneiro em nossa própria casa por causa da poeira e do tráfego intenso”, relata Marta Santos, presidente da Associação de Cruzes e Malhada. Ela cultiva verduras, e também teve seu negócio prejudicado.
Para seu Delci Moreira, da comunidade de Lagoa dos Bastos, a situação é mais séria. Além de acabar com a criação de gado, impedida pela estrada, ele quase perdeu o filho de 12 anos. O menino foi uma das crianças soterradas em abril deste ano, nas beiras da tal estrada.
O pai conta que as crianças estavam brincando num dos barrancos de pó abertos pela Pan American Energy como desvio das enxurradas na pista. Sem nenhuma obra de contenção, a terra deslizou e matou o garoto Paulo Gustavo dos Santos, 13 anos. “A empresa se fingiu de morta e desapareceu. Não prestou socorro, nem assistência, nada. Sequer foi ao velório”.
A dor de seu Delci se transformou em revolta e desilusão. Ele pretende se mudar da comunidade. Só não sabe para onde. Na comunidade vizinha do Capão, também já se iniciou um movimento de êxodo rural. Muitos moradores estão fugindo do barulho das torres.
Eles ficam a apenas 3 km das pás de vento, e não suportam mais a zoada. Ninguém tem coragem de reclamar dar entrevista, com medo de infligir uma das cláusulas dos contratos que assinaram.
Em silêncio, estão arrumando as malas e abandonando a comunidade centenária. Apesar dos rastros de destruição e morte, nenhuma medida foi tomada até o momento. Os moradores afetados clamam por justiça.