Uma pesquisa apresentada no Congresso da Sociedade Respiratória Europeia, que acontece até a próxima quarta (1º/10), revelou que o hábito de fumar durante a adolescência pode ter efeitos que atravessam gerações. Filhos de homens que começaram a fumar por volta dos 15 anos tendem a apresentar sinais de envelhecimento biológico mais rápido do que a idade cronológica indicaria.
O estudo, liderado por cientistas da Universidade de Bergen, na Noruega, sugere que o tabagismo precoce pode causar alterações no material genético dos espermatozoides, transmitindo danos que afetam o funcionamento celular dos descendentes.
Alterações no DNA ligadas ao envelhecimento
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores analisaram dados de 892 pessoas entre 7 e 50 anos que participaram do estudo RHINESSA. Foram avaliadas amostras de sangue e aplicados os chamados “relógios epigenéticos”, ferramentas que medem a idade biológica a partir de mudanças químicas no DNA.
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Essas alterações, conhecidas como modificações epigenéticas, não alteram o código genético, mas interferem na forma como os genes se expressam e estão associadas a doenças do envelhecimento, como câncer, artrite e demência.
Os resultados mostraram que os filhos de homens que começaram a fumar ainda na puberdade tinham idade biológica de nove meses a um ano acima da cronológica. Entre os que também fumaram, a diferença chegava a 15 meses. Já quando o tabagismo paterno teve início em idade mais avançada, o impacto foi bem menor.
Efeitos que atravessam gerações
Segundo o professor Juan Pablo López-Cervantes, autor principal do estudo, meninos que fumam na adolescência podem, sem saber, comprometer a saúde dos próprios filhos.
“Acreditamos que o cigarro nessa fase altere o material epigenético dos espermatozoides e essas mudanças sejam herdadas”, explicou ele durante o evento.
A fumaça do cigarro contém mais de 5.000 substâncias químicas, incluindo a nicotina, que causa dependência e danos a todos os órgãos do corpo.
Os pesquisadores reforçam a importância de políticas públicas que evitem o início do tabagismo na adolescência, tanto para proteger os jovens quanto para reduzir possíveis consequências nas gerações seguintes.
Embora a proporção de adolescentes fumantes venha diminuindo, o uso de cigarros eletrônicos cresce entre jovens em vários países e ainda não há clareza sobre seus efeitos a longo prazo. Para os cientistas, os resultados reforçam a urgência de manter crianças e adolescentes longe da nicotina, independente da forma de consumo.
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