Fiocruz relata caso raro de encefalite associada à infecção pelo zika

Um estudo publicado na revista Viruses em junho por pesquisadores da Fiocruz revelou um caso raro de encefalite do tronco encefálico, também chamada de rombencefalite, associada à infecção pelo vírus zika.

A doença, que afeta uma região profunda do cérebro responsável por funções vitais, é considerada uma manifestação neurológica incomum da infecção.

O zika já é conhecido por causar complicações no sistema nervoso, como a síndrome de Guillain-Barré e a síndrome congênita em recém-nascidos. O surto de 2015 no Brasil evidenciou esses riscos, e agora o novo relato amplia o entendimento sobre o potencial do vírus de atingir o sistema nervoso central.

Caso raro e sintomas graves

A paciente descrita na pesquisa é uma jovem de 21 anos, previamente saudável, que apresentou inicialmente sintomas típicos de uma infecção viral, como febre, erupções na pele e dores nas articulações.

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Cerca de uma semana depois, evoluiu com sinais neurológicos graves, incluindo confusão mental, dificuldades na fala, alterações motoras e convulsões, sintomas que indicaram inflamação no tronco encefálico.

A infecção foi confirmada por meio de testes sorológicos específicos, após exames moleculares não detectarem o vírus devido à baixa carga viral. A jovem recebeu tratamento com corticosteroides e medicamentos antiepilépticos, apresentou melhora progressiva e teve alta após 25 dias de internação.

Nove anos depois, está completamente recuperada, embora relate episódios leves de dor de cabeça e lapsos de memória.

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Dengue, zika e chikungunya são doenças cujos nomes são conhecidos no Brasil. Os três vírus transmitidos pelo mesmo mosquito, o Aedes aegypti, têm maior incidência no país em períodos de chuva e calor, e apresentam sintomas parecidos, apesar de pequenas sutilezas os diferenciarem

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Febre, dor no corpo e manchas vermelhas são sintomas comuns da dengue e das outras as doenças. Apesar disso, a forma distinta como evoluem, a duração dos sintomas e o grau de complicação são algumas das diferenças entre elas

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Estar atento aos sinais e saber identificar as distinções é importante para um diagnóstico e tratamento precisos, pois, apesar do que se pensa, essas doenças são perigosas e podem matar

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Na dengue, os sinais e sintomas duram entre dois e sete dias. As complicações mais frequentes, além das já mencionadas, são dor abdominal, desidratação grave, problemas no fígado e neurológicos, além de dengue hemorrágica

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Além disso, dores atrás dos olhos e sangramentos nas mucosas, como a boca e o nariz, também podem acontecer em pacientes que contraem a dengue

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Os sintomas da zika são iguais aos da dengue, só que a infecção não costuma ser tão severa e passa mais rápido. Há, no entanto, um complicador caso a pessoa infectada esteja grávida

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Nestas situações, a doença pode prejudicar o bebê em formação causando microcefalia, alterações neurológicas e/ou síndrome de Guillain-Barré, no qual o sistema nervoso passa a atacar as células nervosas do próprio organismo

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Já os sintomas da chikungunya duram até 15 dias e, segundo especialistas, provoca mais dores no corpo, entre as três doenças

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Assim como a infecção pela zika, a chikungunya pode resultar em alterações neurológicas e síndrome de Guillain-Barré

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Apesar de não existirem tratamentos para as doenças, há medicamentos que podem aliviar os sintomas, bem como a indicação de repouso total. Além disso, aspirinas não devem ser utilizadas, pois podem piorar o quadro do paciente

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Caso haja suspeita de infecção por qualquer um dos vírus, é importante ir ao hospital para identificar do que se trata e, assim, iniciar o tratamento adequado o mais rápido possível

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O Aedes aegypti é um mosquito que se aproveita de lixo espalhado e locais mal cuidados e é favorecido pelo calor e pela chuva. Por isso, impedir a presença de água parada em sua casa, rua e empresa é o suficiente para travar a proliferação do inseto

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Alerta para vigilância e diagnóstico

Os autores destacam que o caso reforça a necessidade de incluir o vírus zika entre as possíveis causas de encefalite, especialmente em regiões onde o vírus circula com frequência.

Segundo a coordenadora do estudo, a pesquisadora Isadora Siqueira, da Fiocruz Bahia, é essencial ampliar a conscientização sobre as manifestações neurológicas da doença e aprimorar as estratégias de diagnóstico.

“Este trabalho amplia o conhecimento sobre os efeitos neurológicos do zika e alerta para a importância da vigilância clínica e de métodos diagnósticos mais eficazes”, afirmou ela, em comunicado.

O estudo foi conduzido pelo doutorando Mateus Santana do Rosário e contribui para o entendimento das formas atípicas e potencialmente graves de infecção pelo vírus. A equipe ressalta que a descoberta ajuda a orientar o manejo clínico de pacientes e reforça a necessidade de novas pesquisas sobre o impacto neurológico do zika.

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