Em meio ao embate sobre a criação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva preparam um dossiê que liga diretamente assessores do governo de Jair Bolsonaro (PL) a fraudes envolvendo descontos indevidos em benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A informação foi confirmada pelo Correio com fontes do Palácio do Planalto.
Segundo o material em elaboração, documentos conectam antigos integrantes da Secretaria de Previdência Social a associações atualmente sob investigação da Polícia Federal. A estratégia governista é apresentar os indícios como prova de que o esquema fraudulento não apenas teve origem no governo anterior como também se consolidou com a anuência de setores da administração passada.
O dossiê aponta que, entre 2021 e 2022, diversas associações deixaram de validar os descontos no sistema de benefícios do INSS, uma exigência legal para assegurar a autorização dos segurados. A verificação só teria sido retomada em 2023, já sob o atual governo, o que teria permitido que as irregularidades se mantivessem e até se ampliassem.
Um dos principais elementos do dossiê é um organograma que coloca no centro o lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “careca do INSS.” Ele é apontado como figura-chave na articulação entre entidades suspeitas e membros da antiga cúpula da Previdência.
Durante buscas realizadas pela Polícia Federal em uma empresa ligada a Antonio Carlos, foram apreendidos cadernos com anotações manuscritas que sugerem o pagamento sistemático de propinas a servidores e ex-integrantes do INSS. A PF suspeita que as anotações funcionavam como uma espécie de planilha paralela de pagamentos ilícitos.
Ainda segundo o dossiê, há indícios de que muitas das associações criadas durante a gestão Bolsonaro não possuem estrutura física ou quadro de associados reais, sendo, portanto, classificadas como entidades fantasmas. Uma das entidades citadas é a Ambec (Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos), que nega qualquer irregularidade. Segundo o documento, a Ambec começou de forma discreta, mas teve crescimento acelerado, levantando suspeitas de uso indevido de dados de beneficiários do INSS.
A revelação do dossiê acontece em meio ao adiamento do protocolo da CPMI do INSS, articulada pela oposição, que ficou para a próxima semana. A base do governo pretende usar as informações para reforçar a narrativa de que o esquema é um “legado da gestão anterior.”