Na manhã de segunda-feira (20), durante o lançamento do programa Reforma Casa Brasil, com presença de ministros de estado e do presidente Lula, um assento na primeira fila permaneceu desocupado. A cadeira, reservada para o então ministro da Secretaria-Geral da Presidência (SGPR), Márcio Macêdo, foi discretamente preenchida pelo deputado federal Guilherme Boulos (PSOL). Macêdo, ausente no Palácio, faltou ao evento.
A cena, presenciada por assessores, chamou atenção. Seria um prelúdio da mudança só oficializada horas mais tarde, após uma reunião de quase duas horas no gabinete presidencial entre Lula, Boulos e Macedo. A fotografia com o presidente Lula ladeado por um Boulos sorridente e um ex-ministro de semblante contraído consolidou uma troca costurada por meses, como noticiou a Agência Pública em maio. A virada para a troca teria começado em 16 de outubro, segundo fontes consultadas pela reportagem sob reserva.
Naquela data, no auditório da Universidade de Brasília (UnB), 600 representantes de nove estados da Amazônia Legal aguardavam o presidente Lula para o encerramento do evento “Vozes da Amazônia”, liderado pela SGPR de Macedo, sem saber que, na noite anterior, o cerimonial presidencial informou que Lula não teria “agenda”. O ministro anfitrião, ficou “sem graça”, como descreveu uma fonte. Nos corredores, a análise da ausência foi uníssona: um selo de “demissão iminente”.
Já o aceite de Boulos foi uma decisão pessoal, segundo declaração do deputado Chico Alencar: “Não foi uma decisão que passou pelo partido. Ele falou com quem é próximo dele”, afirmou Alencar publicamente, antes de completar: “Mas a gente vai apoiar, ele vai fazer um bom trabalho”.
Durante reunião no gabinete de Boulos na terça (21), com parte da bancada do PSOL, espremida com assessores do lado de fora, o agora ministro contou que teria sido convidado para o posto na sexta (17). Estavam presentes Erika Hilton, Chico Alencar, Célia Xakriabá, Tarcísio Motta, Talíria Petrone, Luciene Cavalcante e Paulo Lemos. Questionado sobre uma possível filiação ao PT, Boulos teria sido irônico: “Falam que vou para o PT desde 2018”.
A SGPR é um ministério em que os movimentos sociais estão presentes “em peso” e a entrada de Boulos é entendida como um reforço de centralização, considerando sua capacidade de “sentar com todos os movimentos e negociar”, visando as eleições de 2026, disse uma fonte da pasta: “O perfil dele é mais adequado para essa tarefa de articulação”, resumiu.
Boulos, Lula e um ano de desafios
Na reunião de Boulos com psolistas, o agora ministro citou a importância de focar em trabalhadores informais e na política de pequenos empreendedores, citando a “economia solidária” e deu indício de sua atuação em três frentes pensando em 2026: rodará o Brasil com o Lula, trabalhará políticas públicas específicas e colocará energia na disputa de pautas importantes ao governo, incluindo embates com a oposição.
A nomeação de Boulos é vista como um movimento estratégico, já que ele é considerado peça essencial para a coordenação da próxima campanha presidencial, em sinergia com Gleisi Hoffmann e Sidônio Palmeira. O projeto político de Boulos pode ser conquistar uma vaga no Senado Federal, o que a presidenta do PSOL, Paula Coradi, afirmou à CartaCapital desejar ainda para 2026. Boulos já começa a despachar informalmente do Palácio antes mesmo da posse, marcada para o dia 30 de outubro.
Novas missões
Macedo se despediu da equipe da SGPR nesta terça, com um discurso emocionado de mais de 40 minutos. Ele agradeceu Lula, falou de sua trajetória pessoal e alegou não estar “saindo” ou sendo demitido, mas que o presidente Lula havia lhe dado “outra tarefa” importante, sem detalhes. Ele sugeriu, ainda, que não há mais espaço na política para “gente como ele”, em referência ao seu lado “humano” e disse ter sofrido “cerco político de nove meses” e “fogo amigo” em sua gestão.
A proximidade de Macedo com Lurian Cordeiro, filha mais velha de Lula, também foi notada na despedida. Lurian, de quem Macêdo se aproximou durante a prisão de Lula em Curitiba, também fez um discurso em homenagem ao ex-ministro.