O indígena José Acácio Serere Xavante, extremista conhecido como Cacique Tserere, disse ter se baseado na nota do Ministério da Defesa para duvidar do processo eleitoral e da confiabilidade das urnas.
Em 9 de novembro de 2022, após a derrota de Jair Bolsonaro (PL), a pasta divulgou o “relatório do trabalho de fiscalização do sistema eletrônico de votação” feito pelas Forças Armadas.
O documento não destaca elementos que indiquem possibilidades de fraude no pleito, mas acabou dando margem para falsas interpretações de bolsonaristas.
Durante depoimento desta quinta-feira (31/8) na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Distrito Federal, o Cacique Tserere foi questionado pelo deputado Chico Vigilante (PT) se acredita nas urnas e chegou a confundir o nome do ministério responsável pelo relatório.
“Não acredito. Tem muita tese, informações da mídia que falaram. O Ministério das Forças Armadas publicou que a urna eletrônica é fácil de ser hackeável. O próprio Ministério da Defesa Nacional disse isso na nota oficial”, disse o indígena. Porém, a informação é falsa. O relatório não provou qualquer irregularidade.
O deputado Fábio Felix (PSol) frisou a declaração do indígena para ressaltar a responsabilização de órgãos oficiais do governo bolsonaro.
“O senhor acha que a nota fez com que o senhor achasse que as urnas não são confiáveis. É importante falar isso, porque estamos construindo quais foram os fatos divulgados por diferentes órgãos do poder executivo federal, e até pelas falas do ex-presidente da República, que motivaram as pessoas a atacarem o sistema eleitoral brasileiro, a democracia brasileira”, disse Fábio.
Em outro momento, o presidente da CPI, Chico Vigilante, pediu a quebra de sigilo bancário do depoente, por avaliar que ele estaria mentindo sobre um possível financiamento para liderança em atos contra o resultado das urnas.
Sessão desta quinta
A CPI ouve dois acusados por atos antidemocráticos. Os deputados da Câmara Legislativa colhem os depoimentos do indígena José Acácio Serere Xavante e do autônomo Armando Valentin Settin Lopes de Andrade, de 46 anos, preso em flagrante no próprio 8 de Janeiro, horas após participar da invasão às sedes dos Três Poderes.
A sessão teve início a partir das 9h, com o indígena depondo primeiro. Atualmente preso, Tserere é um autodenominado pastor que ganhou notoriedade entre grupos bolsonaristas desde que as manifestações em frente ao Quartel-General do Exército começaram em Brasília, tendo liderado vários protestos em locais públicos contra o resultado das eleições.
Sempre sem camisa e com o corpo pintado, ele promovia os atos para criticar o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, e afirmar, sem provas, que teria havido algum tipo de fraude no pleito presidencial que deu a vitória a Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na última segunda-feira (28/8), o Supremo Tribunal Federal (STF) negou o pedido de habeas corpus ao indígena.
Ameaça e perseguição
Por decisão de Moraes, o cacique acabou preso em 12 de dezembro de 2022, por ameaça, perseguição e abolição violenta do Estado Democrático de Direito. A prisão gerou revolta dos bolsonaristas, que tentaram invadir o prédio sede da Polícia Federal, atacaram as forças de segurança, depredaram edifícios do Centro de Brasília, incendiaram veículos e transformaram a região em um palco de guerra.
Já Armando Valentin chegou a admitir à Polícia Civil do Distrito Federal que lideranças do acampamento bolsonarista no QG do Exército planejavam atentados a bomba na capital. O apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) contou ter frequentado o local diariamente, por mais de 40 dias, estabelecendo uma relação de confiança com lideranças do local.
Essa proximidade teria lhe garantido participar de três reuniões restritas, com essas pessoas, momento em que teria ouvido os planos de ataques. “(…) No acampamento, vários organizadores sugeriam colocar bombas para derrubar a ponte da rodoviária de Brasília e que também sugeriam incendiar veículos em estação de energia de Brasília”, contou Andrade.