Influenciados por amigos: conheça perfil de adolescentes que usam vape

Em dois estudos diferentes liderados pela Universidade de Queensland, na Austrália, pesquisadores identificaram que a influência de amigos é um fator decisivo para que adolescentes comecem a utilizar cigarros eletrônicos, conhecidos como vape. Resultados mostram que os jovens têm 15 vezes mais chances de começar a vaporizar se suas amizades também usarem os dispositivos.

As duas pesquisas foram publicadas na última segunda-feira (30/6). Indo na contramão dos primeiros dados, o primeiro estudo relatado no periódico Nicotine & Tobacco Research indicou que a desaprovação dos pais e de figuras significativas reduz em cerca de 70% a probabilidade de um adolescente utilizar vape.

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Entre 2015 e 2020, os cientistas perceberam que a desaprovação desses produtos cresceu de forma significativa – no caso de cigarros tradicionais, de 73,3% para 84,2%, e os cigarros eletrônicos, de 55,4% para 77,5%.

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A outra pesquisa publicada na revista científica American Journal of Preventive Medicine descobriu que muitos adolescentes não sabem exatamente o que estão inalando ao fumar vapes. Jovens de 11 a 18 anos demonstraram grande desconhecimento sobre as substâncias presentes nos dispositivos eletrônicos.

Outro dado interessante observado pelos pesquisadores foi que mais meninas utilizam cigarros eletrônicos do que meninos.

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Cada vez mais popular no Brasil, o vape, cigarro eletrônico ou e-cigarrette tem se tornado um verdadeiro fenômeno entre os jovens. O produto, geralmente, tem aparência semelhante a de um cigarro comum, mas também pode ser encontrado em formato de pen drive ou caneta

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Em uma embalagem colorida, com sabores diferentes, sem o cheiro ruim do cigarro tradicional e com uma grande quantidade de fumaça, os produtos são muito comuns, especialmente, entre pessoas de 18 a 24 anos, apesar de serem proibidos no Brasil

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No geral, o produto é composto por bateria, atomizador, microprocessador, lâmpada LED e cartucho de nicotina líquida. Esses mecanismos são responsáveis por aquecer o líquido que produz o vapor inalado pelos usuários

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Apesar de serem bastante usados no mundo inteiro e, inicialmente, tenham sido introduzidos no comércio como uma alternativa para os cigarros comuns, os vapes são perigosos para a saúde, segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM)

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Os médicos afirmam que os cigarros eletrônicos são “uma ameaça à saúde pública” e oferecem ainda mais riscos do que os cigarros comuns, além de serem porta de entrada dos jovens no mundo da nicotina

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Esses especialistas afirmam que o filamento de metal que aquece o líquido é composto de metais pesados que acabam sendo inalados, como o níquel, substância cancerígena

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Ainda segundo os especialistas, o líquido produzido pelo cigarro eletrônico tem pelo menos 80 substâncias químicas consideradas perigosas e responsáveis por reforçar a dependência na nicotina

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Além disso, o uso diário de cigarros eletrônicos causa estado inflamatório em vários órgãos do organismo, incluindo o cérebro. Novas pesquisas indicam que a utilização também pode desregular alguns genes e fazer com que o usuário desenvolva uma condição chamada EVALE, lesão causada pelo produto nos pulmões

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O neurologista Wanderley Cerqueira, do Hospital Albert Einstein, explica que os efeitos no usuário variam dependendo da nicotina e dos sabores líquidos, que influenciam a forma como o corpo responde às infecções. Segundo ele, vapes de menta, por exemplo, deixam as pessoas mais sensíveis aos efeitos da pneumonia bacteriana do que outros aromatizantes

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O especialista alerta que as células imunológicas parecem ser desativadas à medida que os pulmões são continuamente encharcados com produtos químicos. Esse processo enfraquece as defesas do organismo contra ameaças como pneumonia ou câncer

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Ainda segundo o médico, mesmo os vapes sem sabor são perigosos. Isso porque eles possuem outros aditivos químicos em sua composição, como propilenoglicol, glicerina, formaldeído e a própria nicotina, que causa câncer

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Uma pesquisa da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, encontrou níveis perigosos de toxinas em produtos usados para conferir sensação mentolada em cigarros eletrônicos. Foram verificados problemas em várias marcas dessas substâncias mas, principalmente, na Puffbar, uma das mais populares do mundo

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Os cientistas encontraram níveis das toxinas WS-3 e WS-23 acima dos considerados seguros pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no fluido do produto. Dos 25 líquidos analisados, 24 tinham WS-3, por exemplo

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As substâncias são usadas em aditivos alimentícios para dar o “frescor” do mentolado sem o sabor de menta, mas não devem ser inaladas. Elas são encontradas também em produtos nos sabores de manga ou baunilha

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No estudo, os cientistas também analisaram a relação entre a cannabis e os vapes. Eles apontaram que, em 2023, 7,4% dos adolescentes norte-americanos estavam usando THC (principal composto psicoativo da maconha) em cigarros eletrônicos. Pelo menos 2,9% vaporizavam canabidiol e 1,8% usavam canabinoides sintéticos.

“Os canabinoides sintéticos são particularmente perigosos, pois podem levar a consequências imprevisíveis para a saúde e até mesmo à morte. Também foi preocupante ver que mais adolescentes estavam inseguros sobre as substâncias que estavam vaporizando — 1,8% dos adolescentes em 2021 não tinham certeza se haviam vaporizado canabinoides sintéticos, aumentando para 4,7% em 2023”, diz o autor principal do artigo, Jack Chung, em comunicado.

Papel das redes sociais e preocupação

Segundo o professor da Universidade de Queensland que participou dos dois estudos, Gary Chung Kai Chan, as mídias sociais influenciam diretamente o aumento do uso de vapes entre os mais jovens. “Em muitos vídeos, o vape é retratado como uma opção de estilo de vida mais saudável e moderna quando comparado ao fumo de cigarro, mas essa é uma mensagem perigosa”, afirma Chan.

Para combater o problema, o docente defende uma maior regulação nas plataformas digitais e a criação de campanhas de conscientização voltadas para o público jovem. Ele também alerta que é urgente a realização de novas pesquisas para entender as consequências do uso da cannabis na vaporização e os impactos na saúde física e mental dos adolescentes.

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