A liquidação extrajudicial do Banco Master, decretada pelo Banco Central (BC), expôs uma operação bilionária da Prefeitura de Maceió que agora ameaça o equilíbrio financeiro da previdência municipal. O Instituto de Previdência de Maceió (IPREV) aplicou cerca de R$ 180 milhões, sendo R$ 117 milhões já reconhecidos como perda imediata em títulos da instituição controlada pelo banqueiro Daniel Vorcaro, preso ao tentar deixar o país durante investigação sobre emissão de títulos de crédito falsos.
Com a liquidação, o investimento tornou-se irrecuperável no curto prazo e colocou aposentados e pensionistas do município entre os credores da massa liquidada. A aplicação, realizada em 2024, teve como base recomendações da consultoria Crédito e Mercado, contratada pelo IPREV, e envolveu letras financeiras que não possuem cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).
Aplicação sob suspeita
A decisão de destinar recursos da previdência municipal a um banco de médio porte, sem proteção do FGC e indicado por uma consultoria investigada pela Polícia Federal, alimentou críticas da oposição. A empresa teria sido contratada sem licitação pela gestão do prefeito João Henrique Caldas (PL), sobrinho da ministra do Tribunal de Contas da União (TCU) Marluce Caldas e atual presidente estadual do PL.
Na Câmara Municipal, o tema dominou a sessão de terça-feira, 18. O vereador Rui Palmeira (PSD) afirmou que alertou previamente para os riscos e cobrou responsabilização da gestão. “Trata-se de um dano grave ao patrimônio dos servidores, que dependem da previdência para garantir seu futuro”, disse.
Defesa do governo
O líder do governo na Câmara, Kelman Vieira (PL), argumentou que ainda não há prejuízo definitivo, uma vez que o Banco Central iniciará o processo de identificação de ativos para, só então, listar os credores aptos a reaver valores. Segundo ele, o IPREV entrará nessa fila.
Vieira também destacou que o patrimônio do Instituto aumentou de R$ 300 milhões para R$ 1,4 bilhão nos últimos anos, o que, na sua avaliação, assegura a regularidade dos pagamentos a aposentados e pensionistas mesmo diante do impasse.
Em comunicado, o Maceió Previdência reforçou que a liquidação do Banco Master não compromete a folha:
Pagamentos garantidos: Aposentados recebem novembro no dia 27; dezembro e o 13º, em 19 de dezembro.
Patrimônio preservado: O Instituto afirma possuir R$ 1,4 bilhão em ativos, dos quais o investimento no Master representa menos de 10%.
Operação legal: A aplicação teria sido realizada enquanto o banco detinha todas as autorizações do BC e do Ministério da Previdência, além de grau de investimento atribuído por agência de risco.
Monitoramento: A autarquia diz estar em contato com o BC e órgãos reguladores para acompanhar o processo de liquidação e buscar a devolução dos recursos.
Prefeitura ainda não se pronunciou
Apesar da pressão crescente da oposição e do impacto direto sobre os cofres da previdência municipal, a Prefeitura de Maceió ainda não se manifestou oficialmente sobre a operação, nem sobre eventuais medidas administrativas para apurar responsabilidades.
A crise financeira e política tende a se aprofundar nos próximos dias, com a gestão JHC e o PL de Alagoas sob escrutínio intenso diante da perda milionária envolvendo recursos previdenciários.
