Um estudo feito na Universidade de Oxford, no Reino Unido, mostra evidências de que usar maconha apenas uma vez na vida pode ser o suficiente para provocar mudanças na estrutura do cérebro.
Imagens de exames de ressonância magnética cerebral mostraram uma relação entre o uso da maconha em qualquer momento da vida com uma menor concentração de massa branca no cérebro – uma parte vital para a função cognitiva associada ao aprendizado.
Em um artigo publicado no BMJ Mental Health nesta quarta-feira (30/10), os pesquisadores destacam que o uso da cannabis está associado a efeitos prejudiciais no desempenho neurocognitivo, estrutura cerebral, e ainda não se sabe se há um limite seguro para o uso dela. Eles reconhecem que mais estudos precisam ser feitos para comprovar as descobertas.
Maconha e cérebro humano
O estudo foi feito a partir de dados de 15.896 pessoas inscritas no UK Biobank. O banco de dados é composto por imagens de ressonância magnética do cérebro dos participantes, os perfis genéticos deles e por informações sobre o uso de cannabis e outras substâncias.
Durante as entrevistas, os participantes relataram se “já haviam usado cannabis” e a frequência de uso — com opções de resposta variando de uma ou duas vezes a mais de cem vezes.
Pelo menos 3.641 pessoas afirmaram ter usado cannabis em algum momento da vida. Eles foram separados nos grupos:
Usuários de baixa frequência, definidos como uso de cannabis até 10 vezes ao longo da vida;
Usuários de alta frequência, definidos como uso de 11 a mais de cem vezes ao longo da vida.
Os outros 12.225 participantes disseram nunca ter usado cannabis e entraram para o grupo de comparação dos resultados. Os pesquisadores ainda levaram em conta fatores como peso, idade, sexo, escolaridade, situação de emprego, tabagismo e consumo de álcool, pressão arterial, estado mental e outras variáveis relacionadas a imagens cerebrais.
Os exames de imagem mostraram que os participantes que usaram maconha em algum momento apresentavam uma integridade da substância branca mais pobre. Ela conecta diferentes regiões do cérebro, desempenhando um papel importante no aprendizado, resolução de problemas e equilíbrio durante a caminhada.
Os usuários de maconha tinham conectividade mais fraca para a comunicação entre os lados direito e esquerdo do órgão e também em partes do cérebro que são consideradas ativas durante divagações mentais ou devaneios em estado de repouso.
De acordo com os pesquisadores, essas áreas do cérebro são densamente preenchidas com receptores canabinóides, células que reagem à presença da droga no corpo.
“Usuários de cannabis tinham diferenças significativas na estrutura e função do cérebro, mais notavelmente para marcadores de integridade da microestrutura da substância branca inferior. Análises genéticas não encontraram suporte para relações causais subjacentes a essas associações observadas”, acrescentam.
Nem a duração da abstinência de cannabis nem a frequência do uso foram fortemente associadas a nenhuma das mudanças na estrutura e função do cérebro. O estudo não aponta uma faixa etária específica que possa ser mais crítica para os efeitos no cérebro, como a adolescência ou início da vida adulta.
Diferenças entre homens e mulheres
O estudo sugere que o uso de cannabis afeta homens e mulheres de forma diferente. Enquanto mudanças significativas relacionadas ao uso da cannabis foram observadas em seis regiões cerebrais específicas dos homens, nas mulheres elas se espalharam por 24 estruturas cerebrais e regiões funcionais.
Os pesquisadores reconhecem que o estudo tem algumas limitações e não é possível fazer uma relação direta de causa e efeito porque algum outro fator ainda não identificado poderia ser o responsável pelas alterações cerebrais.
Além disso, a falta de diversidade dos participantes pode limitar os resultados. O estudo foi baseado em informações contidas no UK Biobank, um banco de dados do Reino Unido composto predominantemente por participantes brancos saudáveis.
“Nossos resultados precisam ser interpretados com consideração cuidadosa. Pesquisas adicionais são necessárias para entender os efeitos do uso excessivo de cannabis nessa população, incluindo considerações sobre a potência e informações relacionadas para informar políticas públicas”, dizem os pesquisadores.
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