Antes de ser interditada pela Secretaria de Estado de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal), a EscoLAR Educacional recebeu críticas de mães de alunos e de ex-funcionários. A instituição de ensino funcionava na Arniqueira, atendia crianças de 1 a 5 anos e foi arrendada por Helio Edson Alves e Silva — um dos envolvidos no caso em que o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) teve como alvo a Casa da Nanny, por suspeita de maus-tratos.
Um grupo de mães, que não quis se identificar, procurou o Metrópoles para denunciar a forma como a nova gestão funciona. Segundo elas, houve uma mudança brusca na comunicação, chegando ao ponto de algumas mães serem proibidas de entrar no espaço.
Tudo teria começado em agosto, quando os responsáveis foram comunicados que a gestão iria passar por mudanças. “Começaram a chegar notícias de que a escola iria fechar e nós, mães e pais de alunos, passamos a nos mobilizar, muito pelo fato do apego entre as crianças e as professoras”, disse Ana.
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“Passaram para a gente, durante uma reunião, que houve uma sociedade, em que a atual dona ficaria na gestão e os novos sócios entrariam com o aporte financeiro”, comentou Beatriz.
Porém, com o passar dos dias, elas perceberam que não foi bem isso que ocorreu. A comunicação entre professores e pais foi cessada, segundo as mães, e o diálogo com a direção passou a ser concentrado em um aplicativo que, de acordo com elas, não tinha qualquer tipo de resposta.
Durante esse período, outras mudanças também foram percebidas. “No primeiro passeio escolar após a mudança de gestão, achamos estranho o fato de que não avisaram nada para os pais sobre o que estavam ocorrendo e não enviaram nenhuma foto, algo que era rotineiro na antiga gestão”, comentou Carla.
“Expulsão”
Por ser fim de ano, algumas mães já tinham rematriculado seus filhos na escola. Porém, uma situação, ocorrida já sob a nova gestão, ligou o sinal de alerta. “Um menino caiu e bateu a cabeça. A gestão atual agiu de maneira completamente negligente. A criança nem chegou a ser encaminhada para um hospital e os pais só foram avisados quando foram buscá-lo”, ressaltou Ana.
“Chegamos a pedir o afastamento da atual diretora e, se fosse o caso, sua demissão, e a volta da antiga gestora, pois isso foi um caso de omissão”, alertou.
Depois desse episódio, o grupo de mães, por meio de mensagens, procurou a direção para informar que tiraria os filhos da escola. Nesse momento, segundo elas, ocorreu uma espécie de “expulsão”.
“Como já tínhamos feito a rematrícula, pedimos o reembolso só que, até agora, não houve nenhum retorno ou valor transferido, somente promessas”, disse Beatriz.
A proibição de entrar na escola veio depois que as mães cobraram, algumas vezes, a devolução do valor pago (R$ 250), chegando ao ponto de irem até a escola. “Foi quando soubemos de uma lista com o nome das mães, que estavam proibidas de entrar”, pontuou.
Atrasos
Outro ponto também chamou a atenção. Alguns ex-funcionários da EscoLAR, que foram demitidos recentemente, procuraram a reportagem afirmando que não receberam o 13º salário e a verba rescisória.
Um deles afirmou que, desde que entrou, o salário sempre atrasou. “Nunca era pago no quinto dia útil”, reclamou.
Outra situação que considerou ruim ocorreu no momento da sua demissão. “Não me chamaram para conversar, apenas fui avisado pela diretora, por mensagem, tanto no privado quanto no grupo de colaboradores, o que considerei uma falta de profissionalismo. Isso tudo sem qualquer justificativa”, lamentou.
Segundo o ex-funcionário, ele também foi obrigado a assinar um recibo, o qual afirmava que tinha recebido os valores da rescisão, o que nunca ocorreu.
Baratas e ratos
No tempo em que trabalhou na escola, ele disse que a higiene ficava longe do ideal. “Baratas, vivas ou mortas, apareciam todos os dias. Tinha uma sala, onde ficam os uniformes para os pais comprarem, que sempre aparecia alguma”, contou.
“Também houve um dia que foi encontrado um rato morto dentro do pula-pula. Quando repassamos a situação, só disseram para colocar veneno. Nunca chamaram uma dedetização profissional”, afirmou.
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Barata na EscoLAR
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Barata na EscoLAR
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Barata na EscoLAR
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Rato na EscoLAR
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Outro fato denunciado é a compra inadequada de alimentos. Segundo um ex-funcionário da cozinha, o cardápio apresentado aos pais não correspondia à realidade, sendo, segundo ele, inverídico.
“Precisava ‘tirar leite de pedra’ para conseguir preparar refeições minimamente adequadas às crianças, em razão da escassez de mantimentos”, disse ao Metrópoles.
Emocionado, o ex-colaborador garantiu que houve dias em que as crianças retornavam para casa com fome, pois não houve oferta de jantar, justamente pela falta de alimentos disponíveis.
O grupo de mães apresentou uma denúncia, nesta terça-feira (16/12), junto à 4ª Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor (Prodecon) do Ministério Público (MPDFT), que vai apurar o caso.
Desde que recebeu as denúncias, o Metrópoles tentou contato com a escola, ouvir a versão dos gestores da unidade de ensino. No entanto, a diretora do colégio parou de atender a reportagem desde a sexta-feira (12/12). O espaço está aberto para esclarecimentos.
Entenda
A EscoLAR Educacional foi arrendada por Helio neste ano. Porém, de acordo com a Secretaria de Educação (SEEDF), o espaço não tem credenciamento para funcionar como uma instituição de ensino.
Por isso, agentes da DF Legal foram até o local no dia 9 de dezembro e interditaram o espaço. “A escola deve encerrar imediatamente a atividade sob pena de multa e demais sanções legais”, informou a pasta, na época, por meio de nota.
O estabelecimento só poderá retornar às atividades regulares caso tenha o credenciamento disponibilizado pela pasta de Educação.