Quem não tem uma caixinha de remédios em casa? Para nós, brasileiros, é comum guardar comprimidos no armário do banheiro e usá-los meses ou até anos depois, muitas vezes sem conferir a data de validade. Médicos, porém, alertam para os riscos da prática.
“Medicamentos vencidos não apenas perdem sua eficácia, como muita gente acredita. Ao tomar um remédio vencido, ele pode provocar reações adversas e efeitos colaterais graves. Em alguns casos, o remédio se torna até tóxico”, explica o cardiologista Thiago Piccirillo, da Rede de Hospitais São Camilo, em São Paulo.
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Tendo consciência do risco, nosso primeiro impulso é jogar fora os remédios vencidos. Um estudo de 2019 mostrou que, no Brasil, 66% das pessoas simplesmente coloca os remédios em desuso junto ao lixo comum. Entretanto, essa também é uma prática arriscada e pode se tornar uma ameaça coletiva.
“Qualquer medicamento de uso humano domiciliar vencido ou em desuso como comprimidos, líquidos, pomadas, dispositivos inalatórios, entre outros, deve ser descartado nos coletores disponíveis em farmácias ou em Unidades Básicas de Saúde. Já materiais perfurocortantes como agulhas são aceitos só em UBS”, explica o médico Marcio Penha, diretor médico da farmacêutica Chiesi Brasil.
Jogar comprimidos no lixo ou no vaso sanitário pode contaminar água e solo e gerar riscos para comunidades inteiras. “Muitos compostos não são totalmente eliminados pelo tratamento dos esgotos, permanecendo na água, ou contaminando fortemente o solo dos aterros sanitários. O descarte na coleta reciclável é ainda mais preocupante e inadequado, pois deixa os catadores expostos a contaminações pelo contato com as substâncias”, completa Penha.
Dicas para o descarte adequado de remédios
- Não jogue no lixo doméstico, nem no vaso sanitário.
- Remova bulas e caixas, sempre que possível, e as jogue no lixo comum, para evitar reusos inadequados dos remédios.
- Leve os medicamentos vencidos ainda dentro de suas embalagens internas a pontos de coleta de farmácias autorizadas ou postos de saúde para o descarte.
Iniciativas para diminuir o problema
No Brasil, desde 2020, o Decreto nº 10.388 determina que farmácias mantenham coletores de acordo com níveis populacionais e o tamanho da rede farmacêutica. A logística reversa permite que os resíduos retornem à cadeia de produção e recebam descarte final seguro, evitando contaminação. Mais de 4 mil pontos estão ativos no país.
O termo logística reversa quer dizer que o medicamento descartado pelo cidadão, seja vencido ou em desuso, deve retornar ao fabricante para ser descartado como lixo industrial. Atualmente, pelos prazos de implantação da lei, todas as cidades com população superior a 100 mil moradores já devem ter seus pontos de coleta estabelecidos.
Não há dados exatos de quantos milhões de toneladas de resíduos farmacêuticos são descartados de forma incorreta no Brasil. Entretanto, segundo o Ministério do Meio Ambiente, apenas no primeiro ano de logística reversa foram recolhidas 300 toneladas de medicamentos.
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