Matéria na íntegra de: Diário do Grande ABC
Moradores do entorno da Braskem, que possui quatro indústrias no Polo Petroquímico de Capuava, na divisa de Santo André com Mauá, acusam a poluição da região de ser responsável pela doença que desenvolveram na glândula tireoide. Estudos realizados nos últimos 15 anos pela pesquisadora e médica endocrinologista Maria Ângela Zaccarelli Marino relatam casos na população residente e mostram a correlação com as emissões de poluentes das chaminés das indústrias.
Moradora há 32 anos do Jardim Sonia Maria, em Mauá, na traseira de uma das fábricas da Braskem, a aposentada Maria Vitalina, 77 anos, há cerca de 20 desenvolveu hipotireoidismo e responsabiliza as empresas petroquímicas por sua doença. “Tenho medo de virar um câncer. Tomo remédio e não melhora. E essa situação já gerou tantas denúncias nesses anos todos em que estou aqui, mas nada muda, já sabemos que não tem jeito”, lamenta.
A dona de casa Tatiana Santos, 40, pouco tempo depois que se mudou para as imediações da Braskem e do Polo Petroquímico, no Jardim Sonia Maria, há três anos, desenvolveu hipotireoidismo. “Além dos sintomas da doença, de ter que tomar remédios, ainda tem o cheiro forte. Tem dia que é insuportável, há um fedor, um cheiro de enxofre”, afirma.
Um pouco mais distante, no Jardim Rina, em Santo André, a organizadora de ambientes Rose Porcel, 60, foi diagnosticada com hipotireoidismo e culpa as empresas do Polo Petroquímico. “Estou aqui há 27 anos e tem uns 15 que estou com problema de tireoide. Eu e 90% de Santo André está também por causa dessa fumaça preta. A gente acaba de lavar a casa e já vem uma fuligem preta. Isso é uma bomba atômica, inclusive, a Braskem explodiu há um ano e pouco, e pessoas morreram”, diz, fazendo referência ao acidente que ocorreu na indústria em 2023, resultando em dois óbitos e três feridos.
Questionada pelos impactos que a poluição emitida pela empresa ocasiona, na última segunda-feira (17), a Braskem informou ao Diário que monitora constantemente o processo de produção e tem certificação ISO 9000, 14000 e 14001, o que atesta seu alto grau de responsabilidade socioambiental. A empresa alega ainda que a “Braskem não pode se responsabilizar por problemas que não sejam decorrentes de suas operações” e que é “constantemente fiscalizada por órgãos ambientais competentes, que verificam periodicamente os dados de emissões atmosféricas das fábricas o que garante nossa licença ambiental de operação para pleno desenvolvimento de nossas atividades.”
Entretanto, a Braskem já foi multada, em 2024, pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), por emissão de fumaça preta à atmosfera. A companhia foi condenada a pagar R$ 604 mil em multas, na época.
ESTUDOS
Diante da grande prevalência de doenças autoimunes, como a tireoidite crônica, nos moradores da região do Capuava, a médica Maria Angela desenvolveu uma série de estudos na população dos arredores do Polo Petroquímico. Um deles, divulgado em 2002, aponta que de 1989 a 2001 houve um aumento de 57,6% da quantidade de pessoas que desenvolveram a TCA (Tireoidite Crônica Autoimune).
Ela explica por que a doença é desenvolvida e a relação com o hipotireoidismo relatado pela população local. “O que acontece é que os poluentes agridem a glândula, que se defende produzindo anticorpos que atacam ela mesma, gerando a doença autoimune, a tireoidite, uma inflamação crônica da tireoide. Por consequência da tireoidite crônica, a glândula para de funcionar, o que chamamos de hipotireoidismo.”