“Infelizmente, a água não espera”. A frase é de Jéssica Ferreira, 33 anos, que acordou de madrugada com a enxurrada invadindo o quarto onde dormia com os dois filhos, em Águas Lindas de Goiás, no Entorno do DF.
O relato da moradora resume o cenário de destruição que levou o município do Entorno do DF a decretar estado de emergência após dias de chuvas intensas e que deixaram casas com muros desabados, lama por todo lado e ao menos 12 famílias desabrigadas.
Veja imagens dos moradores:
A região mais afetada pelas chuvas fortes foi o bairro Barragem IV, o cenário é de lama por todo o lado, água acumulada, muros derrubados
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Manoel André, 46 anos, também enfrentou momentos difíceis e ficou com a casa tomada por lama, pedras e galhos que foram arrastados pela chuva
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Ele mora com a esposa, Carliene da Silva Santos, 45 anos, que acabou machucando a perna quando a geladeira foi arrastada pela enxurrada e bateu nela
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Sirlandia de Jesus Santos, 40 anos, também enfrentou momentos de desespero e sofrimento devido às chuvas da região
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Manoel mostra os estragos causados pela chuva no muro de sua casa
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Moradora conversa com bombeiro que dá orientações para deixar o local
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Jessica Ferreira de Moura disse ter acordado durante a madrugada com um estrondo e percebeu que a água já estava batendo na cama, dentro do quarto
Breno Esaki/Metrópoles
O Metrópoles esteve durante a manhã dessa quinta-feira (26/11) acompanhando os moradores da região e visitando a região que foi mais afetada pelo temporal dos últimos dias, o bairro Barragem IV. Lá, o cenário é de lama por todo o lado, água acumulada, muros derrubados, móveis revirados, casas sem portões e roupas molhadas no varal.
Moradores ficam desabrigados
Jessica Ferreira de Moura é moradora do Barragem IV. Ela relatou ter acordado durante a madrugada com um estrondo e percebeu que a água já estava batendo na cama, dentro do quarto.
A mulher vive na casa com os dois filhos, de 13 e 7 anos, e relembrou o cenário de desespero e que a única reação no momento foi tentar segurar a porta junto com o filho mais velho até esperar a água baixar.
Depois, ela e o filho mais velho saíram para ver os estragos: o cenário era de destruição completa. Conforme nassa, o muro da residência estava quebrado e o portão foi arrancado devido à intensidade da correnteza.
“Todas as minhas coisas molharam: o guarda-roupa estragou e a minha geladeira queimou. A gente perdeu muita coisa”, desababou.
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Cenário de calamidade
Diante do cenário de calamidade, Jéssica enfrenta outra preocupação: não ter para onde ir. Ela relata ter chegado a receber visita da assistência social, mas que não pretende deixar o imóvel por medo de perdê-lo.
“Eu não quero sair daqui para ir para a escola porque se eu deixar a minha casa assim, as pessoas vão entrar e vão levar tudo. É tudo que eu tenho. Eu não consigo deixar a casa”, disse Jessica.
Jéssica contou, ainda, que não foi a primeira vez que a residência foi invadida pela água. Segundo Jessica, a situação já ocorreu outras duas vezes, e mesmo após reforçar o muro, a pressão da enxurrada fez a estrutura ceder.
“A gente aqui todos os dias corre o risco de vida. Eu corro o risco de vida com os meus filhos, com os meus animais. E se eu sair daqui, eu não sei o que eu faço. Se eu sair, corro o risco de ficar sem a casa. Se eu ficar, corro o risco de ficar sem a vida”, declarou.
Outro morador do mesmo bairro, Manoel André, 46 anos, também enfrentou momentos difíceis e ficou com a casa tomada por lama, pedras e galhos que foram arrastados pela chuva.
Veja imagens da cidade:
Pedras, galhos e destroços foram arrastados com a enxurrada para dentro das casas da região
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A prefeitura acionou maquinários para fazer a limpeza da região
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Defesa Civil fez avaliação na área
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Muro caído revela força da água
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Morador observa estrago feito em muro de sua residência
BRENO ESAKI/METRÓPOLES @BrenoEsakiFoto6 de 8
Prefeitura pede apoio estadual e nacional
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O decreto afirma que os dilúvios causaram a interrupção de serviços essenciais
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Chuvas atingem a cidade desde o último fim de semana
Material cedido ao Metrópoles
Intervenção de vizinhos
Ele disse que a água desta vez chegou com muita violência. Segundo Manoel, mudanças estruturais feitas em uma residência da rua acima teriam contribuído para o aumento da vazão que invadiu vários imóveis.
“A água veio e não tinha pra onde ir, então foi se acumulando, virando uma panela d’água. Daí começou a correr para dentro dos lotes vazios, danificando os demais e a parte de baixo”, disse .
Manoel explicou que já havia acionado maquinários para corrigir o desnível da região e que a prefeitura também instalou barreiras, mas que tudo foi comprometido após as intervenções feitas pelo vizinho.
Ele mora com a esposa, Carliene da Silva Santos, 45 anos, que acabou machucando a perna quando a geladeira foi arrastada pela enxurrada e bateu nela. Carliene disse que acordou com o barulho da área que ficava nos fundos da casa desabando.
Ela conta que mora na região há 15 anos e nunca viu algo dessa proporção acontecer. Carliense diz ter acordado com a água em sua cama e, quando levantou, as coisas de dentro da casa já estavam boiando.
Para ela, o momento foi de pânico. Carliene conta que no momento em que a água entrou dentro de sua casa, não conseguiu se mexer e várias coisas que estavam flutuando bateram nela.
“É uma coisa que a gente só vê na televisão, né? Eu pensei que nunca aconteceria com a gente. Mas, eu falei, ‘meu Deus’, foi uma coisa que eu nunca pensei que eu ia passar por isso, nunca na minha vida”, disse.
Devido às chuvas, a família acabou perdendo todos os bens materiais e teve de sair da residência por causa do risco de desabamento.
Sirlandia de Jesus Santos, 40 anos, também enfrentou momentos de desespero e sofrimento devido às chuvas da região. Ela conta que desde pequena enfrenta um trauma por não conseguir dormir quando chove muito forte.
Ela disse que enfrentou uma situação parecida em 2023, quando o muro da sua casa desabou devido à pressão da água, mas a estrutura foi refeita e ela pensou que não passaria por isso de novo.
Sirlandia mora com o filho, Eduardo de Jesus Santos de 20 anos. Os dois não se machucaram, mas ela perdeu a máquina de lavar que havia acabado de comprar.
A moradora confessa nunca ter visto tanta água em sua vida, e que uma de suas principais preocupações quando ouviu o barulho do muro caindo foi saber como seu cachorro estava.
“A gente ficou sem poder sair da casa porque a porta entrou para dentro, mas chamamos pela janela e ele pareceu. Aí, colocamos força na porta até conseguir abrí-la; corri e prendi ele. Meu cachorro está vivo e nós estamos vivos, graças a Deus”, disse.
Município em estado de emergência
Diante da calamidade instalada, o prefeito do município goiano, Dr. Lucas (União Brasil), assinou, nessa quinta-feira (27/11), o decreto que coloca o município em estado de emergência após dias de chuvas intensas que provocaram alagamentos, danos estruturais e deixaram famílias desalojadas.
O político também anunciou a criação de um comitê para coordenar ações imediatas e planejamentos de curto e longo prazo. Enquanto isso, a Companhia de Desenvolvimento de Águas Lindas (Codeal) ficou responsável pelo Grupo de Trabalho de Reconstrução (GT-Reconstrução).
Segundo Dr.Lucas, todas as secretarias foram mobilizadas para atuar no atendimento à população afetada.
O gestor ressaltou que o município “não tem condições” de desenvolver as obras de reestruturação por conta própria e que o decreto será levado ao governo de Goiás e ao governo federal para que possam compor uma força-tarefa em apoio ao município.
Segundo o decreto, o estado de emergência deve durar, pelo menos, 180 dias, e atinge áreas urbanas e rurais de Águas Lindas afetadas por chuvas intensas, alagamentos, enxurradas, erosões e outros danos.
Entre as medidas emergenciais, o Centro de Convivência do Idoso (CCI) será usado como base de apoio para as famílias desabrigadas. Caso a demanda aumente, escolas municipais também serão abertas para receber moradores.
