“Nada traz ele de volta”: família de homem morto por PM exige justiça

Era madrugada de 31 de dezembro 2023, véspera de Ano-Novo. Um dia de tradicional comemoração, mas que se tornou uma data marcada pelo luto à família de Cledson de Caldas Souza (imagem em destaque).

Conhecido como Keke, Cledson foi baleado na cabeça e no braço pelo cabo Bruno Correa da Hora Fernandes, resultando em sua morte. O policial militar estava de folga no dia, quando em um comércio, Bruno e Cledson teriam discutido e, ao saírem do local, encontraram-se em um semáforo da Avenida Hélio Prates, onde o militar atirou.

O crime será julgado apenas nesta quinta-feira (23/10), pelo Tribunal do Júri de Ceilândia, 662 dias desde o ocorrido. O policial será julgado por homicídio qualificado, direito penal e crimes contra a vida. No dia do julgamento, há somente um ressalve ao tribunal por parte das pessoas que eram próximas de Cledson: justiça.

“Eu espero de verdade que a justiça seja feita, que o que ele [Bruno] fez com meu irmão ele possa pagar, porque foi uma situação de muita covardia”, desabafou a irmã, Tereza Cristina.

Relembre o caso

Ao Metrópoles, Tereza citou, com voz trêmula de emoção, que Bruno “criou um buraco na vida da família”. “Esse policial criou um caminho de uma dor tão grande para nós, que não conhecíamos. Têm dias que eu ainda, depois de quase dois anos, vou ao encontro de meu pai e me vem à cabeça perguntar a ele se Keke tinha ligado, mas infelizmente ‘cai a ficha’”.

O mesmo sentimento é compartilhado por uma amiga de Cledson, Kamila Martins. Os dois tinham uma amizade desde o Ensino Médio e, para ela, a morte de seu amigo é “um vazio que fica e não vai embora de jeito nenhum”, lamenta. “Nada vai trazer ele de volta. Mas eu espero de fato, com agora tendo o júri, a justiça seja feita e a gente possa descansar o nosso coração. Mas ainda sim é muito doído. A dor não some.”

Ela acrescenta que Cledson teve seus sonhos “interrompidos brutalmente”, como o de ver sua filha crescer — ele deixou uma filha de 12 anos, que permaneceu com a mãe após sua morte. Segundo Tereza, ainda é muito difícil ver a filha dele crescendo, sem ele por perto. “Na época ele tinha prometido um celular de presente a ela, mas ele nunca pode cumprir”.

 

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Cledson deixa uma filha de 12 anos

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Cledson morreu uma semana após completar 44 anos

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Cledson morreu na véspera de Ano-Novo

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Homem morreu após ser baleado com dois tiros

Reprodução/Facebook

“Ele achava que meu irmão sobreviveria”

Foi o que Tereza disse sobre um dos depoimentos prestados pelo policial militar. “Ele alegou legítima defesa e, em um dos depoimentos, ele achava que meu irmão sobreviveria a um tiro na cabeça, ele falou isso!”

Na época, o caso foi encaminhado à 15ª Delegacia de Polícia (Ceilândia) e, posteriormente, encaminhado ao Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDF). Apesar da judicialização do caso, o cabo não foi afastado na época.

O Metrópoles apurou que atualmente Bruno é 3° sargento do Quadro de Praças Policiais Militares Combatentes (QPPMC) e exerce serviços à corporação desde 2014, com uma remuneração básica de R$ 9.167,01, segundo o portal de transparência. Apenas no fim de agosto deste ano o policial teve um processo de sindicância instaurado. A informação foi divulgada em um boletim de comando-geral da PMDF.

O processo justifica a instauração em virtude da apuração sob “aspecto ético disciplinar”, a conduta de Bruno, realizada no ato. A medida será mantida “até que se finalize o Conselho de Disciplina em discussão, ou que ocorra o trânsito em julgado da decisão administrativa na presente Sindicância”.

Em nota, a PMDF informou que “o policial militar se encontra em serviço administrativo, aguardando o julgamento”.

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Alegria e generosidade

Apesar do luto, Kamila e Tereza buscam recordar dos momentos bons de Cledson em vida, seu jeito divertido e brincalhão, e a palavra “alegria” é a mais usada por elas para definir sua persanalidade. “Por onde passava deixava memórias felizes, fazendo todos sorrirem”. Além disso, Tereza destaca que ele “sempre ajudava os outros” e que depois da sua morte, elas chegaram a conhecer pessoas e famílias que haviam recebido cestas básicas de Cledson. “Ele era muito feliz e só queria ajudar as pessoas.”

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