Por: Marcelo d’Avila Magalhães
Eu tinha aproximadamente 18 anos e isso remonta aos anos 80 quando um amigo de Superquadra, o Zé, ganhou um cachorro da raça Doberman e juntos comemoramos, até aí tudo bem. Eu me encantava com as brincadeiras do cachorro enquanto era um filhote cheio de alegria, e até aí tudo bem. O filhote foi tomando corpo e se tornou um belo, jovem e forte cão mas ainda um brincalhão e … até aí tudo bem também.
Com o passar dos meses fui aprender uma lição com aquele cachorro e seu dono, meu amigo que não vejo faz mais de 40 anos.
Um belo dia eu o encontrei na quadra com o cachorro sem coleira, isso mesmo, sem coleira e neste momento percebi que o Zé era bem diferente de mim.
Medindo cada palavra resolvi questioná-lo quanto à insanidade em passear com o Dóberman, sem coleira, no meio da quadra. Daí constatei que meu amigo era, realmente, diferente de mim. Desnecessário dizer que fui rechaçado.
Dias depois encontrei meu amigo que me disse ter encontrado a “solução” para a situação que lhe coloquei; ele passou a passear com aquele monstro por volta das 06:00 da manhã, alegando que naquele horário ninguém circulava na quadra (exatamente no meio da quadra). Tentei novamente encontrar a melhor forma e lancei a pergunta: “Zé, será que neste horário não tem ninguém passando porque o seu cachorro está solto ou porque não passa ninguém mesmo neste horário? Obviamente vocês já sabem a resposta…
Dias depois um Pai, visivelmente raivoso, e seu filho com sangue na perna batem na porta de casa e o Senhor, aflito, disse ter sido informado que eu era amigo do “Zé” e exigiu que eu lhe desse o endereço dele. Como eu temia a reação daquele senhor e ele realmente estava no seu direito, eu lhe passei toda ficha.
Inacreditável mesmo foi ouvir o meu amigo, dias depois, reclamar veementemente da cobrança de satisfação feita por aquele Senhor ao bater em sua casa. Ele achou um absurdo esta invasão de privacidade e mais absurdo ainda do seu Pai ter que pagar as despesas com o tratamento do menino.
Dias depois, finalmente, o cão estava com coleira e o outro irracional, no caso o Zé, foi contido.
Qual foi a lição aprendida? Nunca subestime o quanto alguém é capaz de ser um burro cuidando do cachorro.