A gonorreia, infecção sexualmente transmissível, está ficando cada vez mais difícil de tratar segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Novos dados divulgados pela entidade mostram que a bactéria tem apresentado grande resistência aos principais antibióticos usados no combate à doença.
O relatório foi publicado nessa quarta feira (19/11), no início da Semana Mundial de Conscientização sobre a Resistência Antimicrobiana. O documento reforça a necessidade de ampliar a vigilância, melhorar o acesso ao diagnóstico e garantir que novos tratamentos cheguem aos pacientes de forma mais equitativa.
O programa de monitoramento da OMS, criado em 2015, compila dados laboratoriais e clínicos de diversos países para acompanhar a evolução dessa resistência e orientar políticas de saúde.
“Este esforço global é essencial para rastrear, prevenir e responder à gonorreia resistente a medicamentos e para proteger a saúde pública em todo o mundo. A OMS apela a todos os países para que abordem os níveis crescentes de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e integrem a vigilância da gonorreia nos programas nacionais de ISTs”, afirma Tereza Kasaeva, diretora do departamento de HIV, tuberculose, hepatite e ISTs da OMS, em comunicado.
Resistência cresce de forma acelerada
Os dados mostram que, entre 2022 e 2024, a resistência às duas principais opções de tratamento, ceftriaxona e cefixima, aumentou de forma expressiva. No caso da ceftriaxona, a taxa passou de 0,8% para 5%.
Já a resistência à cefixima subiu de 1,7% para 11%. Além disso, a resistência à ciprofloxacina chegou a 95%. A única taxa que se manteve estável foi a da azitromicina, em 4%, embora o patamar continue sendo considerado alto.
Camboja e Vietnã registraram as maiores taxas de resistência. No total, 12 países enviaram dados à OMS em 2024, número maior que os quatro países participantes em 2022. A ampliação é vista como um avanço, já que ajuda a mapear a circulação das cepas mais resistentes. No conjunto, esses países relataram 3.615 casos de gonorreia.
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A maioria dos registros veio da Região do Pacífico Ocidental, com destaque para Filipinas, Vietnã, Camboja e Indonésia. A Região Africana respondeu por 28% dos casos, seguida pelos países do Sudeste Asiático, do Mediterrâneo Oriental e das Américas, estas últimas com participação menor. O Brasil foi um dos países que contribuíram com os dados.
O levantamento também revela o perfil dos pacientes. A idade mediana foi de 27 anos. Entre os casos relatados, 20% eram homens que fazem sexo com homens e 42% disseram ter tido múltiplos parceiros sexuais no mês anterior. Parte dos pacientes relatou uso recente de antibióticos ou viagens internacionais.
Novas estratégias e desafios
A OMS avançou na vigilância genômica em 2024, com quase 3 mil amostras sequenciadas. Também foram conduzidos estudos sobre novos medicamentos, como zoliflodacina e gepotidacina, além de pesquisas sobre o uso preventivo da doxiciclina. Os resultados podem orientar futuras estratégias de controle e tratamento.
O programa de monitoramento também ampliou sua participação, com a entrada do Brasil, Catar e Costa do Marfim. Apesar dos avanços, a OMS reconhece que ainda existem obstáculos importantes. Entre eles estão o financiamento insuficiente, dados incompletos e a falta de informações sobre mulheres e infecções extragenitais.
A organização reforça a necessidade de investimentos urgentes em sistemas de vigilância para conter o avanço da resistência antimicrobiana e evitar que a gonorreia se torne ainda mais difícil de tratar.
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