A Operação Overclean, que teve início na Bahia investigando fraudes em contratos do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), atingiu uma nova dimensão ao ser encaminhada ao Supremo Tribunal Federal (STF). O avanço das apurações trouxe à tona um intricado esquema de corrupção, liderado pelo empresário José Marcos de Moura, conhecido como “Rei do Lixo”. O caso expõe as ligações do empreiteiro com figuras influentes do Congresso Nacional e autoridades do Executivo e do Judiciário.
O foco inicial da operação era apurar irregularidades em licitações vinculadas ao DNOCS, órgão federal que frequentemente recebe verbas de emendas parlamentares. Contudo, após a análise de sigilos bancários, telemáticos e ambientais, o alcance das investigações se ampliou, revelando contratos milionários firmados com administrações municipais, estaduais e até o governo federal.
Os episódios revelados nas fases anteriores da operação impressionam pela ousadia. Em dezembro, um vereador da cidade de Campo Formoso (BA), primo do deputado Elmar Nascimento (União Brasil), tentou descartar R$ 220 mil em dinheiro vivo ao ser abordado pela Polícia Federal. Em outro momento, um jatinho interceptado em Brasília transportava R$ 1,5 milhão em espécie e uma planilha listando contratos públicos suspeitos, supostamente a mando do “Rei do Lixo”.
O poder do “Rei do Lixo”
José Marcos de Moura construiu sua fortuna no setor de limpeza urbana e consolidou seu poder por meio de alianças políticas estratégicas. Dirigente do União Brasil, partido que ocupa três ministérios – Comunicações, Turismo e Integração e Desenvolvimento Regional – ele é próximo do presidente da sigla, Antonio Rueda, mais conhecido como Tony Rueda, uma figura de crescente influência no cenário político nacional.
Além das ligações com o Centrão, o empresário é apontado como elo entre interesses econômicos privados e decisões políticas que facilitam os esquemas de corrupção. Seu acesso a diferentes esferas de poder, incluindo o Legislativo e o Executivo, tornou-se um dos principais alvos da investigação.
A transferência do caso para o STF ocorreu após a Polícia Federal identificar autoridades com foro privilegiado potencialmente envolvidas no esquema. Entre elas, figuram nomes de peso, como Elmar Nascimento, que até recentemente era considerado favorito para suceder Arthur Lira na presidência da Câmara.
Com as informações já obtidas e novos elementos em análise, os investigadores esperam ampliar o entendimento sobre o esquema. A movimentação ao STF aumenta a pressão sobre políticos e empresários que podem estar diretamente ligados ao desvio de recursos públicos.
A Operação Overclean não apenas revela um esquema de corrupção bilionário, mas também expõe as fragilidades e interdependências entre setores públicos e privados. O envio do caso à Suprema Corte representa um marco no avanço das apurações e pode atingir diretamente algumas das principais lideranças políticas do país.
Enquanto o material apreendido continua sendo analisado, cresce o temor entre aqueles que se beneficiaram do esquema. A cada nova etapa, a operação reforça o alerta de que o combate à corrupção segue no radar das instituições responsáveis, mesmo diante das complexas redes de influência e poder.