Milhares de professores do setor público no Chile marcharam pela primeira vez nesta quarta-feira (26) sob o governo do esquerdista Gabriel Boric, exigindo o pagamento de uma dívida salarial milionária acumulada pelo Estado desde a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
A principal mobilização ocorreu sem incidentes em Santiago, onde dezenas de escolas suspenderam as aulas por 24 horas.
Os docentes saíram às ruas para reivindicar uma dívida calculada em cerca de US$ 8 bilhões (aproximadamente R$ 40 bilhões, na cotação atual) decorrente de uma reforma aprovada durante o governo militar.
“Há uma dívida com os professores, uma dívida histórica, desde os tempos da ditadura”, afirmou a professora de história Katherine Reyes.
Pinochet transferiu a gestão da educação pública do poder central para os municípios, como parte de suas políticas de redução do aparato estatal. Por anos, os municípios se recusaram a cumprir os ajustes salariais por falta de recursos, afetando também as contribuições para as aposentadorias. Cerca de 76.000 professores foram afetados por essa reforma.
O presidente Boric, que tomou posse em março de 2022, se comprometeu a saldar essa “dívida histórica” com os recursos de uma reforma tributária que já foi rejeitada pelo Congresso, mas que o governo tenta reviver com um novo projeto de lei que apresentará nas próximas semanas.
“É algo (com o qual) o governo e governos anteriores se comprometeram. Alguns professores faleceram e isso não foi solucionado”, disse a professora Tania Chacón no âmbito da mobilização.
Por sua vez, Carlos Díaz, presidente do Sindicato de Professores, anunciou para a próxima semana uma nova greve por 48 horas. “Se não houver resposta na próxima semana, teremos uma paralisação por 48 horas e posteriormente uma greve nacional indefinida”, apontou Díaz à AFP.
Entre suas outras demandas, os docentes exigem ter um melhor ambiente de trabalho e que os professores de pré-escola recebam os mesmos bônus econômicos que o resto dos professores.