Quanto tempo deve durar a consulta? Médicos debatem intervalo mínimo

Em um conjunto tão variado de possibilidades quanto é o encontro de pacientes e de médicos, é difícil pensar em um denominador comum para quanto tempo deveria durar uma consulta médica.

O tema voltou ao debate público com a resolução do Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego) publicada em 18/9, que reforça as determinações do Conselho Federal de Medicina (CFM) de que a duração da consulta é uma atribuição da autonomia médica. A própria determinação, porém, ressalta que a duração de referência deve ser de 15 minutos.

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Para o presidente do Cremego, Rafael Martinez, a defesa da autonomia é para preservar o direito dos pacientes de receberem a atenção adequada. “A autonomia não é apenas um direito do médico ou algo corporativo, é uma garantia à sociedade de que cada paciente será visto como único e não como um dado administrativo”, declara.

Apesar disso, pacientes reclamam que as consultas são muito curtas e a autonomia pode refletir os preconceitos do profissional. Lançado em setembro, o curta Corpo Negro, do Instituto de Educação Média (Idomed), ressalta que as consultas feitas com pessoas pretas chegam a durar a metade do tempo do encontro com pessoas brancas.

Faltam estatísticas consolidadas sobre a média de atendimentos pro hora no Brasil. Um estudo global de 2017 indicou que temos uma taxa “justa” de atendimentos aos pacientes, com consultas variando da média de 5,8 minutos a 8,3 minutos por paciente, a depender do indicador adotado.

Afinal, quanto deve durar a consulta?

Não há consenso sobre a duração de uma consulta médica. O mais importante, afirmam os médicos ouvidos pelo Metrópoles, é que o atendimento seja resolutivo e realizado de forma acolhedora.

“Uma consulta de qualidade exige pelo menos 20 a 30 minutos. Esse tempo é razoável para uma boa consulta. Consultas rápidas podem ser superficiais e desconsiderar informações importantes para o diagnóstico e tratamento de doenças. Isso leva a erros, o que, inevitavelmente, pode fragilizar a relação medico-paciente”, afirma o médico Lucas Amadeus, especialista em clínica médica e professor da MedCof, um preparatório para residentes.

O intervalo mínimo é considerado como aquele que é suficiente para ouvir a história clínica do paciente, realizar exame físico e discutir condutas. Mas a variação é grande entre especialidades e contextos de atendimento. Consultas psiquiátricas, por exemplo, podem ser muito mais longas.

Impacto da pressão do sistema

Na rede pública e privada, pressões de produtividade influenciam a duração das consultas. Muitos serviços estabelecem metas de pacientes por hora, em média de três a cinco, o que pode reduzir a qualidade do atendimento e dificultar uma relação adequada com quem busca assistência.

Na capital goiana, a Secretaria Municipal de Saúde recomenda um paciente a cada 15 minutos. O representante do órgão, Frank Cardoso, defende que o prazo seja flexível. “É uma base, mas não precisa ser seguido estritamente. Existe autonomia para ajustes”, afirmou.

Para Amadeus, consultas mais longas podem reduzir exames e internações desnecessárias. “Apesar de a medicina estar cada vez mais dependente de exames laboratoriais e de imagem, quando eles são solicitados sem indicação, podem ser danosos para o paciente”, disse Amadeus. Para ele, gastar mais tempo no atendimento traz mais resolutividade.

Ele acrescenta que o paciente tem direito a exigir esclarecimentos se sentir que não foi atendido de forma adequada. “Quando isso ocorre, pode solicitar mais tempo no serviço de saúde ou buscar uma segunda opinião, sempre com base no direito ao cuidado humanizado”, conclui ele.

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