Quatro anos após a condenação, pela Justiça norte-americana, do ex-presidente da Braskem, José Carlos Grubisich, o caso que revelou um dos maiores esquemas de corrupção corporativa do país continua a simbolizar a desigualdade na aplicação da lei. Enquanto nos Estados Unidos a punição veio com rapidez e rigor, no Brasil as injustiças permanecem, e os responsáveis seguem protegidos pela lentidão e pelas brechas do sistema.
A Braskem, maior petroquímica da América Latina, foi denunciada pela advogada alagoana Adriana Mangabeira Wanderley, que levou aos tribunais americanos informações sobre irregularidades ignoradas por autoridades brasileiras. Sua iniciativa resultou na condenação de Grubisich a 20 meses de prisão e ao pagamento de US$ 2,2 milhões em indenização, após confessar envolvimento em um esquema de suborno de US$ 250 milhões ligado à Odebrecht, controladora da empresa.
A história, porém, começou muito antes, em 2001, quando Adriana foi contratada pela Braskem para um trabalho tributário que garantiu à empresa uma recuperação fiscal de cerca de R$ 1 bilhão. O serviço foi prestado com êxito, mas a empresa se recusou a pagar os honorários devidos, estimados em R$ 11 milhões. Ao cobrar judicialmente o pagamento, Adriana enfrentou represálias, ameaças e isolamento profissional.
As denúncias sobre interferências e conluios envolvendo o caso chegaram ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), que em 2018 concedeu medidas protetivas à advogada. Ainda assim, o processo nunca avançou de forma efetiva, e as instâncias locais continuam marcadas por silêncio e omissão.
Sem amparo no Brasil, Adriana buscou escritórios norte-americanos e britânicos especializados em litígios internacionais, denunciando corrupção, violação de direitos humanos e violência institucional. O caso tornou-se um dos exemplos mais emblemáticos de violência contra a mulher na advocacia brasileira, combinando agressões psicológicas, econômicas e ameaças físicas.
Quatro anos depois, a advogada segue sem reparação e os fatos que ela denunciou seguem envoltos em impunidade. Ironicamente, enquanto Adriana continua lutando por justiça, uma comitiva de desembargadores e políticos alagoanos viaja aos Estados Unidos em missão institucional. Um contraste que escancara as prioridades de um sistema mais interessado em autopromoção do que em corrigir distorções históricas.
O caso Braskem expõe, em sua essência, a distância entre a retórica da justiça e a prática do poder no Brasil. Quando advogados que buscam fazer valer contratos são silenciados e quando denúncias de corrupção só prosperam fora do país, o que se revela é uma estrutura institucional que protege poderosos e pune quem ousa questioná-los. Enquanto a impunidade continua sendo regra e não exceção, os Estados Unidos seguem demonstrando que o cumprimento da lei não depende de sobrenomes, cargos ou alianças.
A lição, portanto, não está nas viagens oficiais nem nas comitivas premiadas, mas na coragem de fazer justiça, algo que, por aqui, ainda parece ser um privilégio, e não um princípio.