Remédio para pré-eclâmpsia pode agir contra câncer no cérebro

Usado há cerca de 70 anos para tratar pré-eclâmpsia, a hipertensão que acontece durante a gravidez, o remédio hidralazina pode atuar conta um tipo agressivo de câncer no cérebro.

De acordo com um estudo publicado na revista científica Science Advances nessa terça (2/12), o vasodilatador é usado como primeira opção em muitos casos de pré-eclâmpsia, mas ainda não se sabia exatamente como ele atuava no corpo.

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“A hidralazina foi criada em uma era de descobertas, quando os pesquisadores dependiam do que observavam nos pacientes antes de explicar a biologia por trás do funcionamento das drogas”, explica o cientista Kyosuke Shishikura, da Universidade da Pennsylvania, nos Estados Unidos, em comunicado.

De acordo com o estudo de Shishikura, o medicamento bloqueia uma enzima chamada 2-aminoethanethiol dioxygenase (ADO), uma substância que avisa aos vasos sanguíneos que eles precisam diminuir seu calibre e aumentar a pressão sanguínea.

“A ADO é como um alarme que dispara no momento em que o oxigênio começa a cair”, explica Megan Matthews, que também participou do estudo. “A maioria dos sistemas do corpo leva tempo; eles precisam copiar o DNA, produzir RNA e construir novas proteínas. A ADO pula tudo isso. Ela aciona um interruptor bioquímico em segundos”, ensina.

A enzima bloqueia o sensor, desencadeando um processo de queda no cálcio e relaxamento dos vasos sanguíneos, controlando a pressão sanguínea. Em gestantes, o processo ajuda a lidar com a hipertensão causada pela pré-eclâmpsia.

Remédio antigo, mas promissor

Estudos recentes têm sugerido que a ADO está relacionada ao glioblastoma, um tipo de câncer no cérebro que sobrevive em locais com pouco oxigênio. Os níveis elevados da enzima foram ligados a doenças mais agressivas.

Os pesquisadores da Universidade da Pennsylvania, em parceria com a Universidade da Flórida, decidiram testar a hidralazina. Usando uma técnica de imagens de alta resolução, descobriram que o medicamento é capaz de pausar o crescimento do glioblastoma sem aumentar a inflamação ou a resistência do tumor.

Os cientistas acreditam que o estudo é um primeiro passo para criar medicamentos mais eficazes e seguros contra o câncer. Eles pretendem construir novos inibidores de ADO mais específicos para o tecido do glioblastoma — a ideia é desenvolver um tratamento que atue no tumor e não tenha efeitos colaterais no restante do corpo.

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