Movimentos sociais de luta pela terra realizaram, na última quarta-feira (24), um ato pela reforma agrária nas terras da antiga Usina Laginha, em União dos Palmares, na Zona da Mata de Alagoas. O local integra a massa falida do Grupo João Lyra, e é reivindicado por acampados que vivem e produzem na região há cerca de 14 anos.
Segundo os organizadores, mais de 2 mil pessoas participaram da mobilização, que uniu protesto e ação produtiva. Após uma caminhada de cinco quilômetros, manifestantes montaram um roçado coletivo e iniciaram o plantio de milho, feijão, mandioca e batata-doce.
A mobilização foi articulada por oito movimentos – entre eles MST, FNL e CPT – com apoio de sindicatos, entidades estudantis, pastorais e dirigentes da CUT. As lideranças reivindicam a regularização das mais de 500 famílias instaladas em acampamentos e defendem que as terras improdutivas da Laginha e da Usina Guaxuma sejam destinadas à reforma agrária.
Durante o protesto, lideranças denunciaram um cenário de insegurança na região. Marcos Antônio Marrom, coordenador nacional da Frente Nacional de Lutas (FNL), afirmou que há forte presença policial nos arredores da usina e relatou ameaças de despejo.
“Estamos nos sentindo ameaçados. Há ordens de despejo em andamento e a família Lyra continua pressionando para retirar as famílias. O clima é tenso e pode haver conflito na Laginha e na Guaxuma se não houver uma solução”, disse.
De acordo com ele, representantes do Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas (Iteral) estiveram no local, mas sem poder de negociação.
Em meio à mobilização, vídeos que circulam nas redes sociais mostram o desembargador Tutmés Airan declarando apoio às famílias acampadas. Nas gravações, ele chega a afirmar que está disposto a auxiliar na ocupação das terras reivindicadas, em um tom de proximidade com os movimentos. A postura causa polêmica porque o magistrado foi o relator do processo de falência do Grupo João Lyra, responsável pela Usina Laginha, cujos ativos hoje são alvo da disputa judicial e objeto direto da reivindicação dos sem-terra.
A coordenadora nacional do MST, Débora Nunes, reforçou que a luta vai além da posse da terra. “Defendemos soberania alimentar, reforma agrária popular e justiça social. Não aceitaremos que a ganância de poucos destrua o sonho de centenas de famílias que fazem da terra um espaço de vida e produção”, declarou.
As áreas das antigas usinas do Grupo João Lyra, que chegaram a ser um dos polos da agroindústria sucroalcooleira no Estado, permanecem em disputa judicial desde a decretação da falência. Para os movimentos, a destinação dos terrenos à agricultura familiar evitaria abandono, degradação ambiental e novos conflitos fundiários, além de garantir a produção de alimentos.
Com o impasse, cresce a expectativa em torno da reunião com o Incra e da atuação do governo de Alagoas, visto pelos manifestantes como peça-chave para destravar negociações. Até lá, a presença das famílias no local é marcada por incerteza, tensão e temor de despejo.